domingo, 23 de outubro de 2011

La Douleur (França)


Foto: divulgação


Ok, Porto Alegre! Eu gosto muito do teu teatro com vídeos, com bonecos em cena, com músicas, gaita e violão. Gosto muito de banda e coro, cenarião e figurinão, barracos, lutas, coreografias pantufísticas. Mas ah! Como é bom ver, também, um teatro sem nada: uma mulher, umas cadeiras, uma mesa e uma luz geral. Só. E se tirar a mesa e as cadeiras, fica bom também. Só ela e uma boa história pra contar. Só a atriz e uma boa história pra ela contar.

Em circunstância nenhuma, ser ator é fácil. Lindas as palavras de Tatiana Cardoso no Seminário A arte do Ator, promovido pela Coordenação de Artes Cênicas, dias atrás. Dizia a Mestre, trazendo Eugênio Barba e muitos outros pensadores pensantes, que o ator é aquele que anda contra a maré, contra a corrente, contra o fluxo. Tem como obrigação, como trabalho, como parte de si ser especial. Dominique Blanc é especial!

Em circunstância nenhuma, um monólogo é fácil. Pra mim, monólogo é covardia. Uma pequena multidão no São Pedro e uma única pessoa no palco. Além dela, as janelas do nosso teatro olhando pra atriz e pra nós.

“E ae, queridona, viemos te assistir. O que é que tu tem pra mostrar?”

"La Douleur" fala de luto. A dor de uma separação, a dor da convivência com a ausência. Quando amamos de verdade é como uma parte de nós vivesse em corpo alheio. A personagem não sabe, durante boa parte da peça, onde está esse corpo, se está vivo, se está bem, se está. É luto pela vergonha do feito algo errado. O extermínio dos judeus faz calar qualquer europeu. Quando amamos de verdade, nossos erros ganham imensas proporções. Luto é uma saudade cabisbaixa de olhos molhados e sem esperança.

O luto acaba quando a saudade acaba. E ela acaba quando ele volta.

A febre baixou, a luz também. Dominique Blanc contou o que tinha pra contar.

E vai deixar saudades.

*Texto escrito em setembro de 2009 por ocasião do 16º Porto Alegre em Cena 

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