segunda-feira, 30 de julho de 2012

Abram-se os histéricos (RJ)


Foto: divulgação

Boas mãos trazem bons resultados

            “Abram-se os histéricos” é um espetáculo-aula da Companhia Inconsciente em Cena que versa sobre a histeria no contexto francês em final do século XIX. Tendo como local o Hospital La Salpêtrière e como protagonistas o professor Jean-Martin Charcot, além de Sigmundo Freud e Joseph Babinski, em cena, estão alguns debates científicos/acadêmicos a respeito dessa, então, novidade médica. Com texto de Antônio Quinet e de Regina Miranda e com direção da segunda, a peça apresenta um resultado esteticamente interessante para a proposta árdua. Além de boas interpretações, o espetáculo tem vários momentos coreografados que merecem elogios efusivos. Lê bem a peça quem entende, desde o princípio, que o protagonista da história não são os personagens centrais, mas o tema: a histeria.
            Debates longos e com termos difíceis, que preenchem boa parte dos quadros dialogados nos quais as interpretações de Lourival Prudêncio (Prof. Charcot), Jano Moskorz (Babinski) e de Evandro Manchini (Freud) se mostram fortes, com intenções bem definidas e expressas de forma rica e com hábil uso do tempo e do espaço, fazem o espectador desavisado interessar-se pelos personagens e por seus conflitos internos. Na mesma medida, estão as seqüências em que Patrícia Niedermeier interpreta Sarah Bernhardt acompanhada de Marina Salomon, Aline Deluna, Marina Magalhães e de Berenice Xavier, que dão vida a outras personagens-testemunhas desse momento histórico. No entanto, de fronte para a tediosa descrição da doença (?) e seus detalhes, o ritmo parece se alongar até quase perder-se. É então que felizmente a percepção de que o que faz as cenas acontecerem não é o destino dos personagens participantes e seus conflitos, mas as conseqüências sociais da abertura das aulas em Salpêtrière se faz necessária: o estudo, a propagação dos debates para além dos muros do hospital, a discussão sobre gênero e sobre comportamento humano e, sobretudo, a histeria enquanto motivação para a arte e, posteriormente, para a pesquisa acerca da nascente psicanálise. É no final da peça que Miranda deixa isso claro, é lá que está o bem-vindo e tradicional ápice. Tem-se aí, pois, uma produção que vence o desafio da didática e da simples galeria com méritos artísticos.
            Em todos os aspetos que compõem a cena, a saber, iluminação (Dani Sanchez), figurinos (Luiza Marcier) e trilha sonora (José Eduardo Costa Silva), os resultados são bastante positivos desde os detalhes visuais/sonoros até a forma como eles se relacionam com a cena, propondo diferentes níveis de fruição. A utilização do espaço do Teatro Tom Jobim de forma alternativa também é positiva.
            Definitivamente, uma das grandes belezas do teatro é saber que tudo pode virar teatro. O melhor é quando isso se dá em mãos habilidosas como aqui é o caso.

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Ficha técnica:
Texto: Antonio Quinet e Regina Miranda
Adaptação do texto “A Lição de Charcot” de Antonio Quinet
Encenação e Direção: Regina Miranda
Elenco: Lourival Prudêncio, Marina Salomon, Patrícia Niedermeier, Aline Deluna, Marina Magalhães, Berenice Xavier, Jano Moskorz e Evandro Manchini
Figurinos: Luiza Marcier
Iluminação: Dani Sanchez
Trilha sonora: José Eduardo Costa Silva (compositor e diretor musical), Marcus Neves (desenho de som), Herbert Baioco (pesquisa de material sonoro), Ernesto Hartmann (Piano) e Márcia Lyra (Soprano)
Realização: Atos & Divãs Produções Ltda

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