sexta-feira, 27 de julho de 2012

Apenas o fim do mundo (RJ)


Foto: divulgação

Belíssimas interpretações

            “Apenas o fim do mundo” estreou no Teatro Serrador, trazendo uma nova versão para o texto do francês Jean-Luc Lagarce (1957-1995). Escrito em 1990, quando o autor se descobriu portador do vírus HIV, o texto já foi encenado no Rio de Janeiro sob direção de Marcio Abreu. Agora, pelas mãos de Brunella Provvidente, a montagem chega ao palco com Pedro Henrique Nunes no papel do protagonista Luiz, e com Dulce Penna de Miranda (Suzana), Kelzy Ecard (a mãe), Vicente Coelho (Antônio) e com Letícia Guimarães (Catarina) compondo o elenco. Depois de muitos anos longe de casa, Luiz resolve voltar à sua família para contar-lhes que irá morrer em breve. Como na parábola do filho pródigo, como em Pterodáctilos (Nick Silver) e como em O Idiota (Dostoievski), o retorno ao lar tem conseqüências inesperadas. O título “Apenas o fim do mundo” é irônico, afinal, “nada demais irá acontecer: apenas o fim do mundo”. Autor dos conhecidos “Regras dos usos e costumes da sociedade moderna” e “História de amor”, Lagarce aqui, diferente dos outros textos, conta uma história, mas conta do seu jeito.
            Os diálogos são repletos de tergiversações que cansam o espectador que não percebe a relação dessas voltas com a situação dramática em questão. O modo de falar indireto, difícil e repetitivo concretiza na oralidade as ações/não-ações que estão acontecendo na evolução dessa visita inusitada. Todos os atores exibem um magnífico trabalho de interpretação: riqueza na exploração dos recursos de voz, emoções expressas de forma equilibrada e pontual, gestual bem marcado. Na direção de Provvidente, assistida por Eduardo Rios, embora os personagens se olhem uns aos outros, os atores nunca o fazem. O estranhamento conseqüente marca na cena o que o texto faz enquanto literatura. O nome disso é teatro inteligente.
            A direção de arte optou pela exploração dos tons de verde. Luiz é o único que não usa a cor. Os figurinos de Gláucia Torquato e Tiago Cardozo, sobretudo nas roupas de Suzana e de Catarina são ricos em detalhes. A iluminação de Renato Machado procura deixar um foco aceso sobre o rosto de Luiz quase o tempo inteiro, marcando ele como alguém que vem purgar o seu fim, mas acaba fazendo os outros purgar as suas decepções. O ritmo, conduzido também pela trilha sonora de Diogo Pereira, exige muita atenção do espectador, sendo lento e delicado em quase toda a narrativa, convidando a audiência para prestar a atenção nas sutilezas das emoções que afloram.
           
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Ficha técnica:

Texto: Jean-Luc Lagarce
Direção: Brunella Provvidente
Elenco: Dulce Penna de Miranda, Kelzy Ecard, Letícia Guimarães, Pedro Henrique Nunes, Vicente Coelho.
Preparação de elenco: Rafael Souza Ribeiro
Assitência de direção: Eduardo Rios
Produção: Helena Castro
Trilha sonora original: Diogo Pereira (Ahmed)
Iluminação: Renato Machado
Figurinos: Glaucia Torquato e Tiago Cardozo
Programação visual: Marina Benigni
Imagens: Javier Abi-Saab

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