segunda-feira, 9 de julho de 2012

Popcorn (RJ)


Foto: Paula Kossatz

Maria Maya e Xuxa Lopes brilham no último texto de Jô Bilac

            Jô Bilac merece toda a fama que já tem. No texto de “Popcorn, qualquer semelhança não é mera coincidência” o espectador tem ao seu dispor um tipo de humor cáustico em personagens familiares em um univeso íntimo bastante próximo de Harold Pinter, sobretudo em seus últimos textos. Já comparado a Nelson Rodrigues, a dramaturgos brasileiros do século XIX, a Almodóvar e tantos outros, Bilac parece se reinventar a cada novo trabalho. Eis aqui o seu mais novo texto, o décimo terceiro produzido para teatro em menos de seis anos. Para o leitor, um ótimo texto. Para um espectador, um ótimo espetáculo.
            Dirigido pelo próprio Jô em parceria com Sandro Pamponet, “Popcorn” consiste em um espetáculo cômico, cujo riso vem menos dos diálogos e muito mais das boas interpretações. A trama versa sobre Márcia (Mabel Cezar), uma dona de casa sem nenhuma experiência literária, que oferece um jantar familiar em comemoração ao prêmio que vai receber na Noruega pelo seu primeiro livro, que virou um best seller. No jantar, estão seu pai Otávio (Cássio Pandolfi), um jornalista respeitado, e seu irmão Marcos (Vinícius Arneiro), professor universitário que sonha com a publicação de seus estudos, acompanhado de sua esposa Roni (Maria Maya), uma jovem espalhafatosa e indiscreta. A tensão se estabelece com a chegada da também convidada Saubara O’Donnor (Xuxa Lopes), famosa estrela de TV que pretende comprar os direitos do livro para rodar um filme. Além das relações familiares ruidosas que geram mal-estar, o clima pesa quando a estrela começa a relatar suas idéias para a adaptação do livro, que não agradam nem um pouco a autora estreante. A narrativa não-linear melhora o texto de Bilac, que não passaria de uma história sem grandes momentos não fosse o jeito de contá-la. A opção pela inversão das cenas, isto é, a intercalação não temporal das situações é um grande mérito porque chama a atenção do público para certos diálogos que dão início ou fim para cada seqüência. O jogo de ênfases ao longo da encenação é mérito da dupla de diretores.
            Maria Maya e Xuxa Lopes brilham em um elenco que têm boas participações de Mabel Cezar e Vinícius Arneiro. Maya parece “engolir” os colegas com uma interpretação absolutamente no ritmo: as falas são claras e ágeis, as intenções são bem postas, as “flechadas” são certeiras. Lopes acerta em manter-se discreta em boa parte da narrativa para, em dois momentos, mostrar um excelente trabalho, trechos em que é aplaudida em cena aberta. Em Cezar e em Arneiro, como nos melhores personagens de Pinter, estão os silêncios, os não-ditos, a força que dá “caldo” para história. Em Cássio Pandolfi, o ritmo cai negativamente, sem sabor, sem força, como se não tivesse importância.
            Nello Marrese constrói um cenário funcional e, em certa medida, requintado para dar lugar às conversas sobre fama, originalidade e memórias. Gabriela Campos acerta nos figurinos igualmente deixando Marcos e Otávio mais relaxados enquanto Márcia e Roni parecem estar mais produzidas e O’Donnor naturalmente elegante. Um aspecto essencial nesse tipo de narrativa, a iluminação marca o ritmo não-linear contribuindo com o espectador que faz a união das partes.
            Pelas vibrantes interpretações de Maria Maya e de Xuxa Lopes e, sobretudo, além do que já foi dito, pela leveza com que os diálogos fazem vir discussões mais profundas no texto de Jô Bilac, “Popcorn” há de garantir uma boa noite de entretenimento em alta qualidade.

*
Ficha Técnica:
Texto: Jô Bilac
Direção: Jô Bilac e Sandro Pamponet
Elenco (em ordem alfabética) / Personagens
Cássio Pandolfi / Otávio
Mabel Cezar / Marcia
Maria Maya / Roni
Vinícius Arneiro / Marcos
Xuxa Lopes / Saubara O’donnor
Direção de Movimento: Viétia Zangrandi
Cenário: Nello Marrese
Figurino: Gabriela Campos
Iluminação: Thiago Mantovani
Trilha Sonora: Jô Bilac
Preparação Corporal: Breno Guimarães
Preparação Vocal: Verônica Machado
Visagismo: Fabrizio Sá
Artes Gráficas: Marcelo Cravero
Fotos: Paula Kossatz
Direção de Palco: James Hanson
Assistência de Produção: Ana Terra e Jenny Mezencio
Produção Executiva: Letícia Napole
Realização: Maria Maya e Giba Ka
Assessoria de Imprensa: JSPontes Comunicação - João Pontes e Stella Stephany
Assessoria de Imprensa ‘No Lugar’ – Ocupação Teatro Ipanema: Daniella Cavalcanti

Sobre Jô Bilac:

Jô Bilac, 27 anos, formado pela Escola de Teatro Martins Pena, é dramaturgo e foi curador do Teatro Municipal Maria Clara Machado (Planetário) / RJ.

Seus textos encenados: 
"Os mamutes" direção Inez Vianna (SESC de Copacabana março 2012);
"Alguémacaba de morrer lá fora" direção Pedro Neschling (SESC Belenzinho São Paulo, nov. e dez. de 2011);
"O Gato branco" direção João Fonseca (Teatro Sergio Porto Rio de Janeiro, junho de 2011);
"Limpe todo sangue antes que manche o carpete" direção Erik Lenate (SESC Consolação São Paulo, Maio 2011);
"Omatador de santas" direção Guilherme Leme (OI Futuro Flamengo, agosto 2010);
"Savana Glacial" direção Renato Carrera (Sesc Copacabana Rio de Janeiro, março 2010);
"Rebú" direção Vinicius Arneiro (Cia dos Atores Rio de Janeiro, nov. 2009);
"Limpe todo sangue antes que manche o carpete" direção Vinicius Arneiro (Solar de Botafogo Rio de Janeiro, março de 2008);
"Cachorro!" direção Vinicius Arneiro (SESC Copacabana Rio de Janeiro, agosto de 2007);
"Desesperadas" direção Jô Bilac (Teatro Vanucci Rio de Janeiro, junho 2007);
"Bruxarias Urbanas" (Teatro Sergio Porto Rio de Janeiro, setembro de 2006).

Escreveu em parceria os textos: 
"Dois p/ viagem" com Miguel Thiré e Mateus Solano (Casa da Gávea Rio de Janeiro, julho de 2007);
"Serpente verde sabor maçã" com Larissa Câmara (em sua segunda montagem em cartaz em São Paulo, espaço Parlapatões, nov. e dez. de 2011).

Prêmios e indicações:
"Savana Glacial" Prêmio Shell de 2010 como melhor autor, indicado a melhor autor ao Prêmio APTR;
"O matador de santas" Prêmio Contigo 2011 como melhor autor;
"Rebú" Indicado como melhor autor ao prêmio APCA de São Paulo.
Indicado ao Prêmio Faz Diferença O GLOBO, como personalidade do teatro de 2010.
"Limpe todo sangue antes que manche o carpete" Prêmio de melhor autor Festival de Teatro de Cubatão/ SP 2012.

Cinema: 
"O silencio que precede o beijo" com Mayana Neiva;
"Coração na boca" com Pablo Sanábio e Elisa Pinheiro;
"As unhas vermelhas da noiva" com Ernesto Piccolo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Bem-vindo!