domingo, 14 de outubro de 2012

Jantando com Isabel (RJ)

Foto: divulgação

Um incêndio sob a chuva

Jantando com Isabel” é o espetáculo de comemoração dos trinta anos de carreira de Isaac Bernat e de Xando Graça, amigos desde os primeiros trabalhos. Escrito pelo italiano radicado no Brasil Furio Lonza, o texto realista surpreende pela disposição em não surpreender. Bem dirigido por Henrique Tavares, os dois atores têm o mérito da calma em contar uma bela história sobre o tempo, sobre a amizade, sobre o amor com todas as cicatrizes de uma vida cujo passado parece ser maior e mais interessante que o presente e o futuro. 

Bernat interpreta um arquiteto hoje dedicado à construção de miniaturas desde que os seus prédios reais começaram a ruir. Graça dá vida a um lutador de boxe hoje muitos quilos mais gordo e bem mais lento que fora outrora até começar a perder nas brigas mais significativas. Ambos moram juntos há vinte anos no mesmo apartamento, os dois fracassados, dedicados a ver passar o tempo esperando por algum tipo de redenção que, talvez, nunca chegue. O espectador, de posse dos detalhes aparentemente mais ínfimos, convive com a dupla, conhece as figuras, os traços em que se encontram e as características em que se opõem. Bernat e Graça são lugares para a frieza e para a docilidade, o lúdico e o formal, para os sonhos e para a realidade de um dia que começa e parece terminar do mesmo jeito que iniciou. 

Na dramaturgia de Lonza, uma remota possibilidade surge como grande chance de escape para esse marasmo. É quando a história ganha nova vida e positivamente começa a se direcionar para o fim. Pairam, nesse contexto, o mesmo cenário meticuloso de Maria Estephânia e a iluminação positivamente discreta de Aurélio de Simoni com os quais nos acostumamos e através dos quais fomos convidados a prestar a atenção na história. Uma mulher, Isabel, modificou a vida desses dois homens cinquentões. Será ela a mesma? Como estará ela hoje? E se ela viesse para jantar? 

“Jantando com Isabel”, de um jeito delicado e, ao mesmo tempo, forte, pode ser descrito como um conto de Vera Karam: “há um incêndio sob a chuva rala”. O surpreendente é que incêndio aqui, assim como a chuva, pode não ter fim. 

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FICHA TÉCNICA

Texto: Furio Lonza | Direção: Henrique Tavares | Elenco: Isaac Bernat e Xando Graça | Luz: Aurélio De Simoni | Direção de arte: Maria Estephânia | Arte Gráfica: Tita Bevilaqua | Assessoria de Imprensa: Ney Motta | Direção de Produção: Dadá Maia | Produção executiva: Tiago D’Avila | Produção: Ciranda de 3 Trupe

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