quarta-feira, 21 de novembro de 2012

R & J de Shakespeare (RJ)

Foto: divulgação

Um dos melhores espetáculos do teatro carioca


           Dentre as muitas coisas interessantes de “R & J de Shakespeare – Juventude Interrompida” é o fato de que a produção assume o óbvio com orgulho: não estamos ali para saber o que vai acontecer, mas para ver como o que acontece será mostrado. “Romeu e Julieta” é uma daquelas histórias que as pessoas no ocidente já nascem sabendo, talvez, sendo tão famosa quanto a de Jesus Cristo do lado de cá no mundo. Quando anoitece e um grupo de quatro jovens, alunos provavelmente de um colégio interno idílico como em “Sociedade dos Poetas Mortos”, descobrem o livro e a história contada pelo dramaturgo inglês, tem-se início aí um jogo de quem vai fazer qual personagem e é a isso que se quer assistir. Dirigido por João Fonseca, a montagem brasileira do texto de 1997 do americano Joe Calarco, com tradução de Geraldo Carneiro, ganhou com razão muitos prêmios e elogios por onde tem andado desde sua estreia em janeiro de 2011. As interpretações estão excelentes, a iluminação, o cenário e o figurino são impecáveis e a movimentação é criativa em cada nova cena. 

João Fonseca criou um jogo interminável de poesia, conteúdo e agilidade no palco. As soluções são inusitadas, surpreendentes e dão uma vivacidade exuberante para a narrativa cênica. Trata-se de excelente teatro do início ao fim sem baixas. João Gabriel Vasconcellos e Felipe Lima têm menos oportunidades de mostrar trabalho, mas o fazem bem sempre que podem. Pablo Sanábio e, principalmente Rodrigo Pandolfo brilham em cena na multiplicidade de personagens que executam, entre eles, Julieta, Ama e Frei Lourenço. O espaço é usado com inteligência em seus diversos níveis e potencialidades, a voz e o corpo estão integrados no mesmo sentido. 

Feito para uma arena, o cenário de Nello Marrese se adapta ao palco italiano sem perder a potência. O disco de madeira, com apartes onde se localizam as classes deixam ver livros, disponibilizando pensar no jogo sobre a literatura e a cultura ocidental. O figurino de Ruy Cortez traz elegância para a narrativa sem endurecê-la. A iluminação de Luiz Paulo Nenen auxilia positivamente no ritmo, na narrativa, nas intepretações, mas sobretudo no cenário e no figurino. A conversa que a trilha sonora de João Bittencourt e de André Aquino estabelece com outras adaptações de “Romeu e Julieta”, como as versões cinematográficas de Franco Zeffirelli e de Baz Luhrmann e a versão musical “West Side Story”, marca a criação de novos níveis de percepção que só podem ser elogiados. 

“R & J de Shakespeare – Juventude Interrompida” não trata apenas da morte por amor dos jovens de Verona na Itália medieval de que trata o bardo em uma de suas tragédias mais famosas. Aqui há o convite e o feliz aceite para o interrompimento da atenção do que há no além da narrativa e a homenagem que os sentidos do espectador podem fazer para o que acontece no palco. Eis o teatro de altíssima qualidade! Bravo!

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Ficha técnica:
Adaptação: Joe Calarco
Tradução: Geraldo Carneiro
Direção: João Fonseca
Com Felipe Lima, Geraldo Rodrigues, João Gabriel Vasconcellos e Pablo Sanábio
Cenário: Nello Marrese
Figurinos: Ruy Cortez
Iluminação: Luiz Paulo Nenen
Trilha Sonora: João Bittencourt e André Aquino
Direção de produção: Beto Bk e Giba Ka
Idealização: Felipe Lima e Pablo Sanábio

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