terça-feira, 30 de julho de 2013

Bette Davis e a Máquina de Coca Cola (RJ)

Anderson Cunha, César Amorin e Carine Klimeck em cena
Foto: divulgação

Excelente comédia em cartaz

“Bette Davis e a Máquina de Coca Cola” é um alívio para quem gosta de comédia com conteúdo, isto é, que não seja só entretenimento. Escrito por Renata Mizhari, a partir do esquete homônimo de Jô Bilac, este é o sétimo espetáculo da Companhia Teatro dos Nós, fundada em 2005. Em cartaz no Teatro da Casa de Cultura Laura Alvim, em Ipanema, zona sul do Rio de Janeiro, a peça diverte a partir dos muitos tipos de síndromes vividas pelo homem moderno. Interpretadas por Anderson Cunha, Carine Klimeck e por César Amorin, as figuras sugerem o absurdo do comportamento humano diante de tantas demandas sociais e politicamente corretas. A direção de Diego Molina faz parecer indissociáveis texto e interpretação nessa comédia hilariante e, por isso, muito bem vinda de volta a cartaz. 

No filme “O que terá acontecido a Baby Jane”, dirigido por Robert Aldrich (a partir do livro de Henry Farrell), lançado em 1962, Bette Davis (1908-1989) dividia a cena com Joan Crawford (1905-1977), as duas antigas estrelas rivais respectivamente dos estúdios da Warner e da MGM. Na história, Davis interpreta o papel título, a personagem de uma mulher que foi famosa quando criança. Crawford faz a irmã de Jane, Blanche Hudson, cuja fama foi muito maior do que a da irmã até ser encerrada por um acidente que a deixou sem poder movimentar as pernas. Disposta a retomar sua suposta carreira, Jane aprisiona a irmã em situações que, durante as filmagens, foram alvo de muitos comentários por causa da rixa entre as duas grandes atrizes. O vínculo desse filme com a peça aqui em questão vem do fato conhecido acontecido nessas gravações. Crawford era viúva de Alfred Steele, maior acionista da Pepsi Cola. É provável que, por isso, Davis tenha exigido uma máquina de Cola Cola dentro do estúdio por provocação. A síndrome de Bette Davis, assim, seria a dificuldade de uma pessoa de se desvincular da infância, pois Jane Hudson, já em idade avançada, quer voltar a fazer os mesmos shows que fazia quando garota, usando os mesmos vestidos cor-de-rosa. Além dessa síndrome, há outras como, por exemplo, o Complexo de Godia (rir sem parar), a Síndrome do Papagaio (repetição de frases feitas e ditos populares), o Ápice de Kouski (cantar em momentos inapropriados) ou a Síndrome do Manifestante do Facebook, que recusa explicações. 

No elenco, Cunha e Amorin estão excelentes, mas Klimeck merece destaque sobretudo em função de um monólogo brilhantemente interpretado que acontece no meio da peça. Os três ótimos atores estão bem dirigidos por Molina de jeito que suas interpretações oferecem um jogo à cena que movimenta a narrativa, trazendo sempre e de forma crescente uma evolução que é bastante rica. Sempre há surpresas, mantendo a coerência e bem articulando o todo, que alimentam o público, esse mantido ávido por mais. O final, que vem na hora certa, demonstra uma inteligente concepção, coroando os ótimos usos de todas as opções estéticas. 

Destaca-se em “Bette Davis e a Máquina de Coca Cola” o cenário de Molina e o figurino (também direção de arte e programação visual) de Bruno Perlatto, porque ambos, com uma paleta de cores entre o bege, o verde e o vermelho, oferecem um pouco de ordem no caos já proposto pelo texto e pela encenação. Com isso, há o aponte para o que é realmente centro no espetáculo, manifestando positiva hierarquização dos sentidos. A iluminação de Anderson Ratto e a trilha sonora de Isadora Medella também são elementos tão bem articulados com a cena que positivamente desaparecem e, por tal contribuição, merecem aplausos. 

Eis aqui mais uma belíssima produção com as assinaturas de Bilac, Mizhari e de Molina que engradece a programação teatral carioca. A ser conferida!

*

FICHA TÉCNICA:
Texto: Renata Mizrahi e Jô Bilac
Colaboração: Anderson Cunha, Carine Klimeck, César Amorim e Diego Molina
Direção e Cenografia: Diego Molina
Assistência de direção: Renata Mizrahi
Elenco: Anderson Cunha, Carine Klimeck e César Amorim
Stand-in: Verônica Rocha
Figurinos, Direção de Arte e Programação Visual: Bruno Perlatto
Iluminação: Anderson Ratto
Visagismo: Sid Andrade
Direção de movimento: Juliana Medella
Trilha sonora: Isadora Medella
Assistência de Trilha Sonora: Felipe Ridolfi
Operação de luz: Felipe Coquito e Romiro Vasques
Contrarregra: Gleice Caxias
Assessoria de imprensa: Sheila Gomes
Direção de produção: Maria Alice Silvério Lima
Assistência de produção: Juliana Trimer
Produção e Realização: Companhia Teatro de Nós

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