segunda-feira, 29 de julho de 2013

Os sapos (RJ)

Paula Sandroni (Fabiana) e Peter Boos (Cláudio)
têm excelentes participações

Foto: divulgação

Um ótimo espetáculo sobre as prisões nossas de cada dia

“Os Sapos” é um ótimo espetáculo que cumpriu a primeira temporada no Galpão das Artes do Espaço Tom Jobim do Jardim Botânico, na zona sul do Rio de Janeiro. Com texto de Renata Mizrahi e direção dela e de Priscila Vidca, a peça trata do quão podemos ser vítimas de nossos próprios atos. Em uma casa de campo, dois casais evidenciam a prisão a que eles mesmos se submeteram, refugiando-se em suas próprias inseguranças. Com diálogos e situações cômicas, o riso vêm como respiro bem vindo ao drama realista com o qual facilmente é possível se identificar. Com ótimas interpretações, o espetáculo tem excelente trilha sonora de Marcelo Alonso Neves e cenário de Nello Marrese. 

Luciana (Gisela de Castro) é dona de uma casa de campo para onde vai com Marcelo (Ricardo Gonçalves), que não trabalha, com quem vive há anos mesmo sem nenhum compromisso claramente firmado entre eles. Nesse lugar afastado, eles são vizinhos de Cláudio (Peter Boos), um músico que faz shows quase sempre sem público em um bar local, e de Fabiana, que trabalha numa loja de roupas caras. A história começa com a chegada de Paula, amiga de infância de Marcelo, que foi convidada por ele, a quem não via há vinte anos. Enganada, ela pensava que estaria ao lado dos antigos colegas de turma, evento que lhe ajudaria a esquecer o relacionamento que ela recém terminou. A “estranha” causa reações diversas em cada um dos personagens: atração sexual, ciúmes, medo, escape. 

A partir de uma leitura superficial, é possível pensar no texto como uma postura machista diante das relações, em que os homens dominam as mulheres. Felizmente, “Os Sapos” não é mais uma peça sobre relacionamentos, porque o enfoque não está no quão ligado está alguém a outro, mas no quão vítima cada um é dos seus próprios atos, de suas escolhas, de suas omissões. Todos os personagens tiveram a oportunidade de se libertar, mas apenas um deles teve essa coragem: um casamento não acontecerá, um show também não, um livro não será publicado e o sexo continuará sem sabor. 

Enquanto montagem, talvez, a única opção estética que atrapalhe a fruição seja a inexistência de cheiros. O realismo emperra na ausência de cafés, vinhos, batatas, fogueira, batidas. Por outro lado, os sutis figurinos de Bruno Perlatto e o desenho de luz quase inaparente de Renato Machado são bastante positivos porque apontam para a trama. Nello Marrese e Marcelo Alonso Neves trazem grandes contribuições com o resultado estético em termos de cenário e de trilha sonora: há beleza, sensibilidade e conteúdo.

Peter Boos e Paula Sandroni, apesar de terem participações um pouco menores, têm grandes momentos de interpretação, com sutilezas em meio ao caos, com intenções bem postas, pausas adequadas e com gestos sutis. Verônica Reis tem ótimas expressões faciais, pontuando sua participação com a crítica que sua personagem exige e a narrativa requer. O todo tem ótimo resultado de direção de Renata Mizrahi e de Priscila Vidca com assistência de Juliana Brisson. Felizmente, a peça está para voltar a cartaz no Teatro da Casa de Cultura Laura Alvim. A ser visto! 

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FICHA TÉCNICA
Texto e concepção: Renata Mizrahi
Direção: Priscila Vidca e Renata Mizrahi
Elenco: Gisela de Castro, Paula Sandroni, Peter Boos, Ricardo Gonçalves e Verônica Reis
Stand- in: Natasha Corbelino
Assistência de direção: Juliana Brisson
Figurinos: Bruno Perlatto
Cenário: Nello Marrese
Assistente cenografia: Lorena Lima
Iluminação: Renato Machado
Trilha sonora: Marcelo Alonso Neves
Fotos: Clara Linhart
Direção de produção: Sandro Rabello,Maria Alice Silvério Lima e Neila de Lucena
Produção Administrativa: Alan Isidio
Realização: Renata Mizrahi e Diga Sim! Produções