terça-feira, 20 de agosto de 2013

Para sempre ABBA (RJ)

Sabrina Kogut e Rodrigo Cirne em "The name of the game"
Foto: divulgação

Para ser visto muitas vezes!

Para sempre ABBA” é excelente. Seguindo as pistas, sim, de “Beatles num céu de diamantes”, mas também de incontáveis produções antes dela, a montagem celebra as canções do conjunto sueco mais popular do século XX. Composto por Benny Andersson, Anni-Frid "Frida" Lyngstad, Björn Ulvaeus e por Agnetha Fältskog, o grupo atuou de 1972 a 1982 e foi o que mais vendeu discos no seu período no mundo. Ainda hoje é recorde de vendas e a plateia lotada do Teatro Clara Nunes, no Shopping da Gávea, zona sul do Rio de Janeiro, é outra prova de que o sucesso ainda perdura. Idealizado por Carlos Alberto Serpa e por Rodrigo Cirne, e dirigido por Tadeu Aguiar, o espetáculo é vibrante. 

Fazer um musical com canções do ABBA não é propriamente recriar o “Mamma Mia”, em cartaz desde 1999 mundo afora e recentemente no Brasil. Os méritos principais de Cirne, que assina o roteiro e a pesquisa musical, estão em manter as canções interpretadas na sua língua original (o inglês) e em resgatar o referencial semântico em que elas foram compostas. Em primeiro lugar, a música vai além do idioma e respeitar a criação original quer dizer reforçar o imaginário que está presente em cada letra para adiante de qualquer conhecimento que as pessoas possam ter do inglês. Depois, modificar a letra, adaptando para versão em português, além de ser uma escolha puramente comercial, seria modificar metade (ou mais) da obra em questão. As opções de Cirne, por isso, são aplaudidas.

No que diz respeito ao significado do ABBA, o parabéns vai pela rendição ao sucesso inegável do grupo. Cirne não faz crítica, mas aceita o óbvio: cantar ABBA é assumidamente alienar-se. Nos anos 70, a América Latina, a África e a Ásia beiravam o caos político dominado pelas ditaduras militares de extrema direita. A Guerra Fria entre Estados Unidos e União Soviética impunham o capitalismo como maior orgulho da primeira nação, envergonhando a segunda. A Europa, cujas diferenças sociais começavam a ficar gritantes, estava dividida em si e em relação ao resto do planeta. Enquanto os jovens politicamente antenados cantavam em metáforas, liam Gabriel Garcia Marquez e exaltavam o cinema europeu, os demais ou escondiam-se no uso forte de drogas pesadas em shows de rock ou cantavam as melodias emotivas, superficiais e cafonas do ABBA. Como em algum momento, politizado ou não, todo mundo já amou ou já perdeu um grande amor, já quis voltar a namorar ou já abafou os sentimentos, o ABBA podia ser minoria no coração de alguém, mas estava presente no imaginário de todos. Sendo uma trégua na luta intelectual ou uma opção estética, nunca houve como negar uma letra, um passo de dança, uma lágrima ou uma gargalhada diante de seus shows ou discos. “Para sempre ABBA” celebra esses momentos. 

Quem conhece as letras consegue perceber um certo caminho dramático que justifica as suas posições no roteiro. Quem não conhece (e não entende inglês) vê o espetáculo de forma mais vertical, mas igualmente positiva. O romance, a decepção, a saudade são lugares comuns que unem as pessoas da plateia em uma só humanidade. Analu Pimenta, Giulia Nadruz, Junior Zagotto, Larissa Landim, Olavo Cavalheiro, Pedro Arrais, Raul Veiga, Rodrigo Cirne, Sabrina Korgut e Sara Marques cantam sozinhos e em conjunto muito bem, oferecendo um resultado não menos que excelente na fruição das melodias, das letras e de seus significados. 

Com destaque para Korgut, Nadruz, Veiga e Cirne, o jogo de cena da direção de Tadeu Aguiar, assistido por Flávia Rinaldi, é ótimo, porque preserva o supervicial valoroso do ABBA: o melodrama, o brilho, o exagero, a adolescência. Sem medo de errar, borrando nas cores, as intenções são ratificadas e, nesse sentido, conquistam o público que se sente seguro em confiar no que está vendo e curtir. O figurino de Beth Serpa é um espetáculo a parte, surpreendendo positivamente em cada cena. Há autorreferência, há beleza, há unidade, há justificativas. Desafiando o perigo de mexer com tantas cores e com tantas modelagens diferentes, Serpa vence com galhardia. 

Para sempre ABBA” é divertimento da melhor qualidade para ser visto várias vezes! 

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