segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Palhaços (RJ)

Thiago Detofol e Claudio Tovar em cena
Foto: divulgação

Outra ótima versão do texto de Timochenco Wehbi
“Palhaços”, dirigido por Alexandre Bordallo, apresenta os atores Claudio Tovar (Careta) e Thiago Detofol (Benvindo) em versão mais dura do texto de Timochenco Wehbi (brasileiro,1943-1986). Escrito em 1973, o texto teve montagem recente dirigida por Gabriel Carmona, com Dagoberto Feliz e Danilo Grangheia, dividindo, no Rio, a programação de teatro carioca. A ocasião expressa a riqueza do teatro brasileiro de forma que, em suas produções, estão dadas as diversas leituras que nossos grandes artistas têm a oferecer. No caso desta, a crítica social está mais clara, mais disponível e consequentemente mais superficial, mais lenta, mais didática, o que está longe de ser um desmérito dessa ou daquela visão. O espetáculo cumpriu temporada na Sala Multiuso do Espaço Sesc Copacabana. 

O vendedor de sapatos Benvindo entra sorrateiramente no camarim do palhaço Careta após a primeira sessão do show de circo a que acabou de assistir. É um fã que veio conhecer o responsável pelos momentos alegres recentemente vividos. No ato, vê um homem comum, tirando a maquiagem diante de um espelho iluminado cheio de fotografias. Se, para Benvindo, as luzes são sinal de espetacularidade, para Careta, talvez, sejam apenas um instrumento para que melhor ele possa identificar os contornos faciais. Vendedor e artista, assim, olham, no diálogo, para o mesmo objeto e, ao evidenciar pontos de vista diversos, expõem suas proximidades e suas distâncias enquanto homens. O artista, afinal, também é um vendedor e Benvindo, por sua vez, também tem seu picadeiro. Os dois homens que se encontram em um camarim, lugar destinado à preparação de um espetáculo, estão prestes a ir para uma segunda sessão: um para o show de circo, outro para a de sua própria vida. 

Claudio Tovar, por manter uma coluna curvada, uma voz pesada e expressões faciais duras, apresenta um Careta disposto a marcar as regras de um jogo perigoso. Com isto, seu personagem anuncia que o pântano onde Benvindo penetrou é caudaloso e, quem sabe, sem volta. Quase não se podem ver ironias em um discurso preciso, íntegro e essencial. Thiago Detofol traz um Benvindo simples, oposto ao complexo, valorosamente comum. O sotaque é claro, as expressões são coesas e as pausas não deixam dúvida ao espectador. Como um Corifeu, ele entra na tragédia, representando o coro, nós, o público, nesse camarim. Nesse sentido, os trabalhos de interpretação, dentro de uma concepção bem amarrada, deixam ver dois homens passivos diante do próprio conflito do qual parecem nem pensar em fugir. Ele, no entanto, está ali e enfrenta-lo agora talvez seja a única opção. 

O ritmo é regular e ascendente, o que é positivo. O cenário (Tovar) deixa ver possibilidades, mas, ao mesmo tempo, um vazio que requer o preenchimento, seja dos atores através do movimento, seja do público pela respiração (e catarse). A iluminação de Aurélio di Simoni valoriza as duas posições, mantendo o público à sombra como que no limite de um passo. A direção musical de Claudio Lins é sutil, mas não menos perversa: quando a plateia invade o palco, ela corre o risco de ser pega por seu próprio ego. 

Simples e nem um pouco despretensiosa, a montagem carioca de “Palhaços” deverá voltar a cartaz, sendo ainda bem aplaudida. 

*

Ficha técnica:
Texto: Timochenco Wehbi
Direção: Alexandre Bordallo
Elenco: Claudio Tovar e Thiago Detofol
Cenário e Figurino: Claudio Tovar
Direção de movimento: Thiago Detofol
Direção musical: Claudio Lins
Luz: Aurélio Di Simoni
Operação de som: Helder Bezerra
Operação de luz: Alexandre Bordallo
Direção de palco: Helder Bezerra
Designer gráfico: Mônica Martins
Produtora/Administradora: Thaty Taranto
Assistência de produção: Felipe Mansan
Realização: Sempre Mais Produções Artísticas LTDA

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