terça-feira, 29 de outubro de 2013

1958 (RJ)

Elenco de "1958" em cena
Foto: divulgação

Uma deliciosa dissertação musical




“1958” é um dos melhores musicais do ano. Baseado no livro “Feliz 1958”, de Joaquim Ferreira dos Santos, a peça é uma dissertação, isto é, seu protagonista é o tempo, os doze meses que compõem o ano de 1958 no Brasil. Com uma historinha aqui outra ali, as micro narrações servem de autoridade para a tese que se desenvolve e não o contrário como nos espetáculos de narrativa tradicional. Assim, justapondo jingles publicitários, fatos políticos, artísticos e sociais, além de ícones da época, “1958” diverte e entretém com potencialidades de reflexão. A direção musical de Marcelo Alonso Neves proporciona momentos de grande prazer pela forma como os arranjos estão postos, mas sobretudo pela magnífica interpretação das canções principalmente pelos atores. Em cartaz no teatro da Casa de Cultura Laura Alvim, na zona sul do Rio de Janeiro, eis aí uma bela programação para todas as idades. 

Com roteiro e direção de André Paes Leme, “1958” é dividido em sete partes, os sete gols acontecidos no jogo entre Brasil e Suécia na copa daquele ano (a primeira taça mundial da seleção canarinho). Leme impõe um jogo vibrante de encenação, em que uma cena dá lugar a outra de forma leve, bem arranjada, articulada com potencia significativa que dá sustância para a peça como um todo. Para citar, a chegada de Lucineide (Daniela Fontan) na Rádio, o embarque no avião e a comunicação entre os apartamentos de cima e de baixo no nascimento da bossa nova dão a ver lugares criativos em que o teatro se comunica com o seu público de forma ímpar. Nesses lugares, o teatro se afasta das outras artes e dignifica a sua identidade, aqui expressa por um conjunto de elenco disponível, talentoso e bem dirigido. 

Com destaque para Andrea Veiga, Daniela Fontan e sobretudo para Matheus Lima, o elenco é valoroso em suas participações cena após cena. Os números musicais, como já elogiado, tem alta qualidade e fazem boa companhia com as sequências cênicas: tudo é posto em um tempo que ilustra, informa e entretém sem se alongar mais do que deveria nem deixar a desejar. Com belíssimo uso da voz, Lima tem destaque na interpretação do locutor da Rádio. 

O cenário de Carlos Alberto Nunes e os figurinos de Kika Lopes, além do desenho de iluminação de Renato Machado, têm a mobilidade para o texto fluído de “1958”, sem empobrecer por alguma falta de informação felizmente. Em todos os sentidos, a peça tem alto valor estético, fazendo acompanhar o jogo de cena e as cores com a qualidade musical já apontada. 

A intercalação entre a recepção dos gols ora por parte da torcida brasileira, ora por parte da sueca, é um engraçado motivo para levar adiante o assunto do espetáculo. O fim acontece de repente, como um dezembro que dá um lugar a um janeiro sem muitas explicações. Até nisso, o espetáculo é muito positivo. 

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FICHA TÉCNICA
Inspirado na obra “Feliz 1958”, de Joaquim Ferreira dos Santos
Roteiro e direção: André Paes Leme
Elenco: Andrea Veiga, Bianca Byington, Daniela Fontan, Diego de Abreu, Leandro Castilho e Matheus Lima
Músicos: Evelyne Garcia, Tiago Calderano e Leandro Vasques
Direção de movimento: Márcia Rubim
Direção musical: Marcelo Alonso Neves
Direção de Produção: Andréa Alves
Cenário: Carlos Alberto Nunes
Iluminação: Renato Machado
Figurinos: Kika Lopes
Videografismo: Renato Vilarouca e Rico Vilarouca
Programação visual: Humberto Costa / Mais PV
Realização: Aveiga Produções e Sarau Agência de Cultura Brasileira

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