sexta-feira, 11 de outubro de 2013

O teste in blues (RJ)

Carlos Vereza volta aos palcos 21 anos depois
Foto: divulgação

Monótono


O maior problema de “O teste in blues” é o fato de que o espectador mediano sabe que já viu tudo aquilo, porque é capaz de prever todos os acontecimentos. Numa noite de final de semana, o cinegrafista Michael recebe uma jovem atriz para o último de uma longa fila de testes de vídeo para o papel de uma protagonista. Ela está nervosa e demora em acertar o texto. Ele está cansado, desolado, em fim (e decadência) da carreira frustrada. Por algum motivo, ele se sente atraído por ela e os dois começam um diálogo que, de espontâneo, passa a ser imperioso, porque começa a chover forte lá fora. Nisso, um velho profissional se ressignifica a partir de uma jovem iniciante. Em igual sentido, uma garota cheia de referências da arte e da literatura se transforma depois de vislumbrar seu talvez trágico futuro. Escrito, interpretado, com direção e direção de trilha sonora de Carlos Vereza, o espetáculo constrói a sensação de mofo, de coisas já muitas vezes ditas, de tédio. Cumpriu temporada no Teatro Jobim no Jardim Botânico do Rio de Janeiro. 

Como ator da peça, Carlos Vereza repete o mesmo personagem já muitas vezes vistos em suas participações na TV: o homem triste, desinteressado, vítima da própria melancolia e cheio de raiva reprimida. Passa as horas dentro de um estúdio velho, obsoleto, cheio de livros e pó, bebendo café e whisky, fumando um cigarro atrás do outro enquanto sua barriga cresce. Carolinie Figueiredo também não tem desafios na viabilização do contraponto, primeiro porque é só manifestar direta oposição a com quem contracena, e segundo porque, como já se disse, o papel é raso. O conflito entre os dois é pura e simplesmente as diferenças de suas personalidades e elas em suas vidas, pois, enquanto chove, estão ambos presos um ao outro. Dessa forma, fica-se sem entender a princípio porque ele não encerra logo ou o expediente ou a carreira (há tempo para isso antes da chuva começar) e porque ela simplesmente não vai embora, pegando um táxi (a peça se passa nos dias de hoje). Logo, somos levados a ter certeza de que os personagens são meros (e tolos) motivos para um texto que tergiversa sobre a velhice e a juventude, o trabalho e a arte. Em termos de dramaturgia literária e cênica e de interpretação, “O teste in blues” tem pouco a acrescentar. 

O cenário de José Dias, visivelmente, também não é desafiador, a não ser pelo virtuosismo da chuva que cai realmente no lado de fora da janela. A marca realista é bem vinda porque estamos diante de um drama realista psicológico, embora falte à peça uma trama melhor amarrada e sobrem-lhe críticas sociais. O figurino de Rafaela Rocha e a iluminação de Maurício Ferreira são igualmente positivos porque, sem problemas, fornecem os meios necessários para a narrativa correr, houvesse uma. 

21 anos depois da última vez em que esteve no palco de um teatro, o grande ator Carlos Vereza ainda fica na “dívida” com seu público fiel e admirador. “O teste in blues” não corresponde às expectativas infelizmente. 

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Ficha Técnica:
Autor, Direção, Interpretação e Trilha Sonora: Carlos Vereza
Atriz Convidada: Carolinie Figueiredo
Direção de Arte e Cenografia: José Dias
Assistente de Direção: Marcelle Lacerda
Figurinos: Rafaela Rocha
Iluminação: Maurício Ferreira
Fotografia: Ricardo Rheingantz
Produção Gráfica: João Paulo Andrade
Assistente de Cenografia: Paula Senra
Cenotécnico: Adílio Athos
Teclados: Leo Silva
Assessoria de Imprensa: Passarim Comunicação / Ciranda Comunicação
Produção Executiva: Roberto Ricardo

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