quinta-feira, 1 de maio de 2014

O que acontece quando a coisa acaba (RJ)

Claudia Sardinha e Julia Stockler em cena
Foto: divulgação

Com méritos

“O que acontece quando a coisa acaba” é um drama que conta a história de duas irmãs que se encontram depois de um ano. Uma delas saiu de casa para “ver o mundo” e a outra ficou para cuidar mãe doente. Na primeira cena, a que foi volta para ver como estão as coisas. Interpretado por Claudia Sardinha e por Julia Stockler, que também assinam a dramaturgia, o espetáculo é uma boa oportunidade para ambas atrizes mostrarem seu potencial artístico. A peça está em cartaz no Teatro O Tablado, na Lagoa. 

O roteiro é ingênuo, o que não necessariamente é ruim. Alma (Julia Stockler), a irmã mais velha, não conseguiu suportar a pressão que a doença da mãe fazia sobre o destino dela e da irmã e fugiu. Como nenhuma carta foi respondida, ela volta para saber notícias, chegando sem avisar. Alda (Claudia Sardinha) está envolva em seus afazeres domésticos quando avista a irmã. O diálogo frívolo no início vai dando lugar para conflitos mais profundos aos poucos. Em um ato só, a peça preenche os momentos que antecedem a entrada de Alma no quarto da mãe. Dentro do quarto, há um segredo que a história há de revelar a quem for assistir.

A direção de Felipe Cabral enfrenta bem o desafio de contar a história de “O que acontece quando a coisa acaba”. Nas marcações, é possível identificar o jogo entre as atrizes, a potência nas pausas que sustentam a emoção e prendem a atenção, os movimentos pelo espaço que preenchem bem o tempo da narrativa. O expressionismo é pincelado na cena final sem exageros, vencendo bem o perigo de tornar a história em um melodrama. Felizmente, isso não acontece.

Com iguais méritos, as contribuições das interpretações de Sardinha e de Stockler são diferentes. A força da irmã que vai embora revela uma fraqueza diante dos problemas. A covardia da irmã que fica deixa ver a coragem em enfrentar o destino. Nos trabalhos, essas intenções ficam claras positivamente, com discretas e bem-vindas doses de emoção, mantendo a peça em um bom nível de elegância. As marcas de verdade na encenação conseguem positivamente aproximar a história do além da narrativa, apesar da idade das personagens (criadas pelas atrizes para elas próprias, os personagens parecem ser bem mais velhos), do lugar (o Rio de Janeiro parece um lugar pequeno e pouco habitado) e do tempo transcorrido (um ano apenas entre a partida de Alma e sua volta e não décadas como o drama entre as duas parece supor).

O cenário de Constanza de Córdova é um dos pontos altos do espetáculo, construindo um ambiente neorrealista, que é útil para a percepção da história, além de bonito. A iluminação de Poliana Pinheiro, com as luzes falhando ao longo da narrativa, participa da história ativamente. 

Dentro da proposta, “O que acontece quando a coisa acaba” é um bom espetáculo, porque atinge os objetivos traçados. Vale a pena conhecer o trabalho de Stockler, de Sardinha e de Cabral.

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Ficha técnica:
Texto e atuação: Claudia Sardinha e Julia Stockler
Direção: Felipe Cabral
Direção de Movimento: Marina Magalhães
Cenário: Constanza de Córdova
Figurino: Ana Carolina Lopes
Iluminação: Poliana Pinheiro
Preparação Vocal: Verônica Machado
Fotos e Material de Divulgação/ Teaser: João Atala
Produção: Claudia Sardinha e Julia Stockler

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