quinta-feira, 7 de agosto de 2014

A crise dos 20 e poucos anos (RJ)

Foto: divulgação
Jessika Menkel, Firmino Cortada e Alvaro Pilares em cena

A falta de um conceito sólido

A peça “A crise dos 20 e poucos anos” não tem uma dramaturgia, nem literária, nem cênica, que dê conta de segurar o espetáculo de cinquenta minutos infelizmente. A descrição no programa não concorda com o espetáculo a que se assiste, e vice-versa, oferendo um objeto de análise que melhor propõe reflexões sobre a importância de uma boa dramaturgia como ponto de partida para um bom espetáculo. Finda a temporada no Sesc Casa da Gávea, ficam alguns questionamentos que podem resultar em reflexão interessante.

Na abertura, tem-se uma situação inicial que é parcialmente construída. Há um personagem Paciente (Firmino Cortada), um divã e um personagem Psiquiatra (Álvaro Cortada). Uma Terceira Pessoa (Jéssika Menkel) faz, talvez, o papel de consciência do Paciente. Ao longo da apresentação, haverá um diálogo que aprofunda parcamente os detalhes dessa situação inicial, informando um pouco mais a respeito desses personagens , mas que não modifica a trama de forma que a história avança pelo tempo, mas não se constrói em termos de narrativa. Ao final, tem-se a impressão de que, tudo exposto, a peça ainda está por começar.

Filho de família rica, o Paciente está no consultório em terapia exigida e financiada pela mãe. Durante a primeira parte da sessão, os diversos preconceitos do personagem serão expostos, mas sem objetivos claros diegeticamente. Demolir um hospital em Ipanema e construir um shopping no lugar, substituir a Pedra do Arpoador por um deck regado a champagne, e bloquear as saídas de metrô que "empesteiam" a praia em sua proximidade são imagens de humor negro que fazem rir, mas que não se desenvolvem enquanto um estilo nessa dramaturgia (ver como o gênero acontece nos textos de Nick Silver, por exemplo). Durante o ato único, ainda há o planejamento por parte do Paciente do velório da própria mãe e as conversas sobre o seu futuro profissional. Em meio a isso, o Psiquiatra diz frases como “Você não tem cultura!” que levam o espectador duvidar se está mesmo diante de um psiquiatra. Nesse sentido, o espectador não tem diante de si bases suficientemente sólidas para fruir o espetáculo "A crise dos 20 e poucos anos", nem como uma narrativa clássica, tampouco como uma comédia dissertativa de episódios.

Sem se posicionar nem enquanto tema (no que diz respeito à articulação dos assuntos ou dos pontos de vista sobre o tema), nem enquanto obra de arte (pelo resgate ou pela atualização de estilo, de gênero ou de tipo textual), “A crise dos 20 e poucos anos” oferece um contexto que não é propício para a avaliação dos trabalhos de interpretação ou dos elementos visuais (cenário, iluminação e figurino). Não está claro o conceito, portanto não há como refletir sobre como as marcas permitem ver o que não está claro. Fica aí a discussão acerca da importância de serem viabilizadas marcas bastantes que possam mais claramente identificar a obra.

“A crise dos 20 e poucos anos” não parece estar pronto ainda.

*

Ficha Técnica:
Texto: Firmino Cortada
Elenco: Alvaro Pilares, Firmino Cortada e Jessika Menkel
Direção: Cleiton Rasga
Cenário: Vanessa Alves e Guilherme Reis
Figurino Helena Labri
Trilha sonora: Cleiton Rasga
Preparação vocal: Natália Fishe
Desenho de luz: Felipe Medeiros
Publicidade virtual: Luiz Antonio Pontes
Fotografia e arte: Karla Kalife
Produção: Firmino Cortada

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