quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

As Bodas de Fígaro (RJ)


 Foto: divulgação
Ernani Moraes, Leandro Castilho, Carol Garcia e Solange Badim
em cena

O melhor musical de 2014

            “As Bodas de Fígaro” é o melhor musical de 2014 e um dos melhores e mais engraçados espetáculos produzidos no ano. Com direção de Daniel Herz e com direção musical Leandro Castilho, a peça é uma adaptação excelente da ópera de Mozart escrita a partir do original de Beaumarchais. Além de Castilho no papel principal, o elenco conta ainda com Claudia Ventura, Solange Badim, Ernani Moraes, Carol Garcia entre outros, interpretando os personagens, além de tocar e cantar ao vivo em um todo que é excelente. A peça está em cartaz no teatro da Casa de Cultura Laura Alvim.
            Escrita pelo dramaturgo francês Pierre-Augustin Caron de Beaumarchais (1732-1799) em 1778, a comédia “As Bodas de Fígaro” só conseguiu ser apresentada seis anos depois por causa da censura que barrou sua crítica mordaz à aristocracia.  Seu sucesso, no entanto, foi estrondoso quando finalmente liberada inclusive com a ajuda da imperatriz Maria Antonieta. É a segunda de uma trilogia também composta por “O Barbeiro de Sevilha” (1773) e por “A Mãe Culpada” (1791). A ópera “Le nozzi di Figaro”, que a montagem atual atualiza, foi composta pelo compositor austríaco Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) em 1786, sendo seguida por “Don Giovanni” (1787) e por “Così fan tutte” (1790).
            Trata-se de uma farsa e, como tal, é cheia de tramoias, envolvendo os personagens em reviravoltas cada vez mais inusitadas. O servo Fígaro (Leandro Castilho) está prestes a se casar com a criada Suzana (Carol Garcia) e, para a surpresa de ambos, o patrão, o Conde de Almaviva (Ernani Moraes), resolve cobrar a prática até então abandonada do “Direito da Pernada”. Segundo esse costume, é o Senhor do Castelo quem desvirgina a noiva na noite de núpcias (e não o noivo). Contra esse intento, está também a Condessa de Almaviva (Solange Badim) que, de um lado, reclama das ausências amorosas do marido, e, de outro, dá margem para as investidas do pajem Cherubino (Tiago Herz). Para impedir também o casamento de Fígaro e de Suzana, há a governanta Marcelina (Claudia Ventura) que é apaixonada por Fígaro e cobra-lhe o direito de se casar com ele tendo em vista o não pagamento de uma dívida antiga. Em seu auxílio, Dr. Bartholo (Ricardo Souzedo) quer vingar-se de Fígaro porque esse ajudou no casamento de sua pupila, a atual Condessa, com o Conde. Envolvidos nas tramas, estão ainda o professor Basílio (Alexandre Dantas), o jardineiro Antônio (Adriano Saboya) e sua filha Fanchette (Carolina Villar).
             A encenação de Daniel Herz, com assistência de Clarissa Kahane e com direção de movimento de Marcia Rubin, evidencia a ótima articulação entre a tradução de Bárbara Heliodora e a direção musical de Leandro Castilho. No espetáculo “As Bodas de Fígaro”, estão preservados os maiores valores da ópera oitocentista, mas também da comédia original e sobretudo da relação dessas com o público. O ritmo sofre um pouco na segunda metade da narrativa por conta da localização de uma cena muito importante um tanto distante do final, o que alarga o encerramento. Isso porém é apenas resultado do quanto o público se diverte com a produção. Cheios de méritos são ainda os figurinos de Antonio Guedes, que estabelecem com galhardia a difícil união de elementos que fazem referência a épocas, texturas e origens tão distintas em um todo que bem corrobora com os ideais estéticos que a produção parece ter idealizado.
            Ernani Moraes não é um exímio cantor, mas o que lhe falta na voz sobra-lhe em carisma. Sua composição como Conde de Almaviva é nada menos que deliciosa. Solange Badim (Condessa), Claudia Ventura (Marcelina), Alexandre Dantas (Basílio) e principalmente Leandro Castilho cantam excelentemente e apresentam trabalhos de interpretação melhores ainda: todos estão leves nas cenas de ação, reforçam a certa complexidade que os personagens no texto dispõem e não perdem um só momento de plena conexão com o público, viabilizando um trabalho que, desde o conjunto, é magnífico. No entanto, é preciso destacar a atuação de Carol Garcia que, ao mesmo tempo, faz a referência ao canto lírico da ópera de Mozart e conserva o clima de pastelão que a direção de Daniel Herz parece ter bem concebido para a sua versão.
            Unindo dois nomes expoentes dos anos finais do século XVIII na Europa, “As Bodas de Fígaro” tem, além de todos, o mérito de criticar a sanha pelos interesses, a realização de conchavos e a concessão de privilégios na convivência entre pessoas de toda a classe, origem ou situação. Ambientalizada originalmente na França, a história foi transposta para a Espanha, mas pode ser potentemente lida como um retrato do Brasil e de nós brasileiros. Um espetáculo excelente!

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FICHA TÉCNICA:
Texto: Pierre-Augustin Caron de Beaumarchais
Tradução: Bárbara Heliodora
Direção: Daniel Herz
Direção musical e adaptação: Leandro Castilho
Elenco: Adriano Saboia, Alexandre Dantas, Carolina Vilar, Carol Garcia, Claudia Ventura, Ernani Moraes, Leandro Castilho, Ricardo Souzedo, Solange Badim e Tiago Herz
Diretora Assistente: Clarissa Kahane
Iluminação: Aurélio de Simoni
Cenografia: Nello Marrese
Assistente de Cenografia: Lorena Lima
Figurino: Antonio Guedes
Assistente de Figurino: Luz de Lucena
Visagismo: Antonio Guedes e Junior Leal
Cabelo e maquiagem: Junior Leal
Direção de movimento: Márcia Rubin
Fotografia de Divulgação e de Cena: Paula Kossatz
Consultoria Contábil: Contsist Contabilidade e Sistemas
Realização: IDARTE PRODUÇÕES



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