sexta-feira, 13 de março de 2015

A visita da velha senhora (RJ)


Foto: divulgação


Maria Adélia em cena

O aniversário do "Teatro na Justiça"

“A visita da velha senhora” é o espetáculo que comemora os 15 anos do programa “Teatro na Justiça” do Centro Cultural do Poder Judiciário. Em cartaz na Sala Multiuso do CCPJ, no centro do Rio, a peça escrita pelo dramaturgo suíço Friedrich Dürrenmatt tem ótima direção de Sílvia Monte, com belíssimas atuações de Maria Adélia e de Marcos Ácher nos papeis principais. Não apenas pela beleza célebre do texto, mas principalmente pelos trabalhos de interpretação, vale a pena conferir esse trabalho que se apresenta gratuitamente de segunda a quarta-feira, às 19h, durante o primeiro semestre de 2015.

O texto é a única tragicomédia escrita por Friedrich Dürrenmatt (1921-1990), mas é também seu texto mundialmente mais famoso. Lançado em 1955, a história começa com a pequena cidade de Güllen, no coração da Europa, devastada pela pobreza que veio depois de alguns anos de glória. Eis, porém, que corre entre os moradores a notícia de que a ilustre arquibiliardária Clara Zahanassian (Maria Adélia), nascida ali, fará uma promissora primeira visita à cidade depois de 45 anos. O merceeiro Alfredo Schill (Marcos Ácher) é o escolhido para recepcionar a velha senhora, pois, no passado, ele e ela tiveram uma amizade um pouco mais “próxima”. De fato, Clara Zahanassian oferece a ajuda de um bilhão para a cidade de Güllen e seus moradores, mas condiciona esse “presente” a um pedido. Trata-se de um gesto que poderá sair muito caro principalmente a Schill. A sequência da narrativa deixa ver um jogo interessantíssimo em que reflexões sobre justiça e liberdade, evasão e responsabilidade, decadência política, passividade e interesse fazem ponte dessa dramaturgia com as tragédias gregas e clássicas, mas principalmente com Beckett, Ionesco, Pinter e, sem dúvida, com o teatro didático de Beltolt Brecht. No Brasil, recentemente, a Velha Senhora ganhou duas versões parciais na televisão, chamadas de Tieta do Agreste (Beth Faria) e Ana Francisca (Maria Ximenes), ambas bastante populares entre o grande público.

Com direção pontual que valoriza as palavras, expressando através dela todo um conjunto de ações, o elenco apresenta bons trabalhos de um modo geral. Há que se destacar positivamente Sávio Moll (o delegado), mas em especial Marcos Ácher e Maria Adélia pelo modo como esses deixam transbordar mais claramente os níveis mais profundos de compreensão de cada frase. Em Moll, Ácher e em Adélia, o jogo fica ainda mais interessante! Laura Nielsen, Anita Terrana, André Frazzi, Pedro Lamin, Rogério Freitas, Eduardo Rieche, Paulo Japyassú, Renato Peres e Pedro Messina também compõem o quadro com méritos.

O único problema de “A visita da velha senhora” é o figurino de Pedro Sayad. Com várias peças mal acabadas, incluindo o vestido da Sra. Zahanassian, o conceito tem articulação duvidosa com os demais elementos da produção. De um lado, os figurinos dos cidadãos se afastam do realismo por apresentarem-se não apenas como velhos, mas também do lado do avesso em umas peças, mas não em todas. De outro, a exuberância da Velha Senhora deixa a desejar quando o mais interessante de seu vestido é a sua reversibilidade, o que nada tem a ver com uma roupa da biliardária. Sem unidade, os trajes lançam a narrativa para pensamentos divergentes e atrapalham a estrutura.

A trilha sonora de Marcos Caminha é interessante principalmente pelas referências a “Edelweiss”, do musical “The sound of music”, e a “Love unspoken”, da opereta “A viúva alegre”. A primeira nunca foi uma canção tradicional do repertório austríaco, mas, nos últimos cinquenta anos, devido ao sucesso do filme, tem sido indevidamente tocada como se fosse o hino da Áustria. A segunda pode ilustrar o passado de Clara e de Alfredo, fazendo relação desses com Danilo e Hanna, personagens da obra de Franz Lehár. Sem dúvida, essas escolhas revelam níveis diferentes da significação possíveis.

Como tem sido nos últimos anos, o programa “Teatro na Justiça” está de parabéns. Acessível ao grande público, mais uma vez, está uma dramaturgia de alta qualidade, encenada com muitos méritos. Bravo!

*

Ficha Técnica
Autor: Friedrich Dürrenmatt
Tradução: Mario da Silva
Direção e Adaptação: Sílvia Monte
Direção Musical: Marcelo Coutinho
Cenário: José Dias
Figurino: Pedro Sayad
Iluminação: Elisa Tandeta
Direção de Produção: Renata Blasi e Ana Paula Abreu
Realização:
Centro Cultural do Poder Judiciário do Rio de Janeiro
Diretoria-Geral de Comunicação e Difusão do Conhecimento
Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro

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