sexta-feira, 12 de junho de 2015

João Cabral (RJ

Foto: divulgação

Rafael Sieg, Raphael Vianna, Gaby Haviaras e Caetano O'Maihlan


Belo espetáculo comemora os 10 anos da Companhia Teatro Íntimo

“João Cabral” é o espetáculo que surge na comemoração dos dez anos da Companhia De Teatro Íntimo. Com ótimos roteiro e direção de Renato Farias, essa bela peça tem texto assinado por um dos maiores poetas da língua portuguesa, o pernambucano João Cabral de Melo Neto (1920-1999), autor de obras como “O cão sem plumas” (1950), “A educação pela pedra” (1966) e “Sevilha andando” (1989), além do clássico “Morte e Vida Severina” (1966). Em cena, os atores Raphael Vianna, Gaby Haviaras, Caetano O’Maihlan e Rafael Sieg promovem um mergulho na estética do respeitado escritor, oferecendo uma experiência poética repleta de beleza, simplicidade e de afeto. Depois de uma primeira temporada cheia de sucesso em Copacabana, a produção está em cartaz na Sede das Companhias na Lapa.

No palco, o maior mérito da dramaturgia desse espetáculo está no fato dos textos poéticos terem recebido uma edição que os aproxima do público. Como nos livros, a poesia do imortal João Cabral de Melo Neto corre ao natural no teatro, o que demostra que Renato Farias a conhece, gosta dela e sabe que seus contornos atravessam o dia a dia do homem comum. Os quatro atores, dirigidos com habilidade, tornam o movimento e os objetos cênicos em quadros teatrais sem se vestirem de personagens, dando conta de um uso do tempo que não tem o privilégio constante de uma narrativa. Isso é um enorme desafio e sua vitória só reserva à obra ainda mais elogios. Ao optar por um lugar mais difícil, apresentando um espetáculo que se faz e se desfaz de modo tão fluído, Farias constrói uma linda metáfora para a obra de João Cabral de Melo Neto, que a peça homenageia.

Diante de figuras sem formas bem definidas para interpretar, os atores Raphael Vianna, Caetano O’Maihlan, Rafael Sieg e Gaby Haviaras emprestam de modo mais claro parte de sua identidade para dar a ver a da peça como um todo. O resultado é que a evolução do modo como suas participações acontecem na peça faz vir sobre a dramaturgia novas cores, o que aconteceria com muito mais dificuldade em um monólogo. Na estrutura de cada diálogo, é possível ver mérito na viabilização de marcas que aproximam, como já se disse, o texto da audiência: a linguagem clara, as intenções bem postas, olhares e movimentos limpos. Gaby Haviaras não apresenta o mesmo resultado como intérprete nesse trabalho, mas sua participação como bailarina justifica sua presença como responsável pelos méritos do espetáculo. Seu número de flamenco, em que sua grande força infelizmente não encontra exata dupla em Raphael Vianna, é vibrante. Esse é o melhor momento do espetáculo.

Malas, máquinas de escrever, canas de açúcar e ternos bem cortados, no cenário de Melissa Paro e no figurino de Thiago Mendonça, dão corporalidade ao cuidado estético desde os mínimos detalhes de forma positivamente sutil e disposta a não pesar. A luz de Rafael Sieg explora o palco contribuindo para a evolução da narrativa, mantendo o espaço livre como o faz os demais elementos.

Muitas vezes trazido à cena através do lindo “Morte e Vida Severina”, João Cabral de Melo Neto aparece aqui a partir de outras de suas obras. Através dessa produção, a aniversariante Companhia De Teatro Íntimo homenageia mas também ela deve receber homenagens. Parabéns.


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Ficha técnica
Poemas de João Cabral de Melo Neto
Direção e Roteiro: Renato Farias
Elenco: Caetano O’Maihlan, Gaby Haviaras, Rafael Sieg e Raphael Vianna.
Cenografia: Melissa Paro
Figurinos: Thiago Mendonça
Iluminação: Rafael Sieg
Produção: Gaby Haviaras
Flamenco: Eliane Carvalho
Fotos: Carol Beiriz
Realização: Pela Noite Produções Artísticas e Cia. de Teatro Íntimo

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