terça-feira, 14 de julho de 2015

Beija-me como nos livros (RJ)

Foto: divulgação


José Karini, Julio Adrião, Ângela Câmara e Claudia Mele

Nova direção de Ivan Sugahara é frustrante

Da Companhia Os Dezequilibrados, “Beija-me como nos livros” encerra sem tantos méritos a trilogia sobre o amor, composta ainda pelos excelentes espetáculos “Amores” (de Domingos de Oliveira) e “Fala comigo como a chuva e me deixa ouvir” (de Tennessee Williams). Dirigida como os demais por Ivan Sugahara, essa peça apresenta imagens bonitas e ótimas interpretações do elenco formado por Ângela Câmara, Claudia Mele, José Karini e Julio Adrião, mas a escolha por um idioma inventado como o único falado durante os noventa minutos de encenação resulta em um cansativo processo de fruição que exaure mesmo o espectador mais disponível. Em cartaz no Centro Cultural do Banco do Brasil, no centro do Rio de Janeiro, a produção conta ainda com destacável figurino de Bruno Perlatto e iluminação de Renato Machado. É uma pena!

No programa da peça, a produção justifica a escolha de um idioma incompreensível para o público (chamado de “gromelô”) uma oportunidade para a valorização dos outros aspectos envolvidos na comunicação entre os personagens. Assim, as entonações, as feições, os movimentos e todo o contexto em que os diálogos aparecem ficariam com a responsabilidade de oferecer o que for necessário para a plateia compreender as cenas. Na dramaturgia, logo no início, percebe-se facilmente que a história se divide em duas. De um lado, há dois casais de personagens originais (seus primeiros nomes são os mesmos dos atores que os interpretam: Ângela e José, Claudia e Julio) que vivenciam momentos de felicidade e de crise. De outro, quatro histórias célebres do repertório cultural do amor romântico são apresentadas em trechos ao longo da narrativa (“Tristão e Isolda”, “Romeu e Julieta”, “Os sofrimentos do jovem Werther” e “Don Giovanni”.) À plateia, chegam facilmente as situações dramáticas de ambos os lados e também o modo como elas se articulam, se envolvem, colaboram umas com as outras. A questão mais problemática é que, vinte minutos depois da peça ter começado, “Beija-me como nos livros” deixa de ser uma peça sobre o amor (ou sobre o amor romântico) e passa a ser sobre como esses atores são bons em falar um idioma que só eles entendem e, o que já se sabia, em dar vida a personagens cujas marcas são claras. Considerando o histórico dOs Dezequilibrados, esse é um desafio muito pequeno. É frustrante!

Há uma belíssima cena em que Ângela Câmara e Júlio Adrião estão sozinhos, mas lado a lado, evoluindo em uma coreografia delicada e complexa. Em outro momento, os quatro personagens originais bailam solitários e acompanhados, expressando, através da dança, seus sentimentos. A cena final é também de destacável beleza. Infelizmente esses momentos são pérolas na direção de Sugahara que vencem as barreiras impostas pela dramaturgia.

Em toda a encenação, é vibrante confirmar a expertise de Ângela Câmara, de Claudia Mele, de José Karini e de Julio Adrião. Atores experientes, muitas vezes elogiados e com carreiras sólidas, não há novidade nesses méritos aqui visíveis. A iluminação de Renato Machado amplia o espaço útil do palco do Teatro 1 do CCBB com rara beleza. Os figurinos, com destaque aos vestidos, de Bruno Perlatto também são pontos altos da produção. A trilha sonora, assinada também por Ivan Sugahara, facilita ainda mais o reconhecimento das histórias e o jogo de evolução delas através de um repertório acessível: “Tristão e Isolda”, de Richard Wagner; e “Por uma cabeza”, de Carlos Gardel; são bons exemplos de canções utilizadas provavelmente com esse objetivo. O cenário de André Sanches, em que cama, cadeiras e mesa parecem ter sido construídas a partir de pilhas de livros também facilita a fruição provavelmente também compensando a dificuldade trazida pelo texto.

A vida profissional dos atores é como qualquer outra vida profissional. Se aos atores experientes também não for dada a oportunidade de experimentar, qual a graça de envelhecer? “Beija-me como nos livros” é uma experimentação ainda que mal fadada, mas bem-vinda. Eles sabem o que estão fazendo e já provaram isso várias vezes.

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Ficha técnica:
Direção e Dramaturgia: Ivan Sugahara
Elenco: Ângela Câmara, Claudia Mele, José Karini e Julio Adrião
Assistente de Direção: Lívia Paiva
Direção de Movimento: Duda Maia
Direção Vocal e Pesquisa Fonética: Ricardo Góes
Dramaturgismo: Juliana Pamplona
Criação Dramatúrgica: Ângela Câmara, Claudia Mele, Ivan Sugahara, José Karini, Julio Adrião e Lívia Paiva
Cenário: André Sanches
Iluminação: Bruno Perlatto
Assistência de Figurino: Victor Guedes
Trilha Sonora: Ivan Sugahara
Técnico de Luz: Leandro Barreto
Desenho de Som: Luciano Siqueira
Direção de Palco: Wallace Lima
Assessoria de Imprensa: Daniella Cavalcanti
Assistente de Assessoria de Imprensa: Fernanda Miranda
Design Gráfico: Luciano Cian e Cláudio Attademo
Fotografia: Dalton Valério
Marketing Digital: Qtal Design
Produção Audiovisual: Eduardo Chamon
Coordenação de Produção: Tárik Puggina
Direção de Produção: Carla Torres Azevedo
Produção Executiva: Aline Mohamed e Marcelo Chaffim
Administração Financeira: Amanda Cezarina
Realização Os Dezequilibrados e Nevaxca Produções

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