quarta-feira, 8 de julho de 2015

Pulsões (RJ)

Foto: Vitor Hugo Cecatto

Cadu Fávero e Fernanda de Freitas


Direção de Kika Freire colabora com o texto de Dib Carneiro Neto

Em “Pulsões”, a diretora Kika Freire apresenta com méritos enorme esforço em transformar esse texto inédito de Dib Carneiro Neto em algo não tão pesado. Em cena, um homem e uma mulher estão confinados em um lugar cujas paredes se vê aos poucos. No final, o espectador há de saber que o que os une é um passado terrível. Até lá, estará diante de uma parafernália dramatúrgica por meio da qual um Maestro e uma Bailarina, interpretados por Cadu Fávero e por Fernanda de Freitas, essa última em excelente trabalho, procuram viver melhor consigo mesmos. Em cartaz no Teatro Poeira, em Botafogo, a peça tem ainda belíssimo cenário e figurino de Teca Fichinski e direção musical de Marco França.

Na verdade, segundo informações do release, o dramaturgo Dib Carneiro Neto partiu de proposta de Kika Freire para escrever o texto de “Pulsões”. Em questão, estava o potencial criativo da temática da loucura. Nesse lugar, condenado e vítima se encontrariam em uma só pessoa, como duas faces de uma mesma moeda, situação essa tão complexa quanto é a vida real. Ambos culpados por um crime relativamente similar, na versão final do texto, o personagem do Homem e da Mulher agora, através da catarse, precisam purgar o mal pelo qual foram expulsos da sociedade civil e aprisionados. Nesse sentido, é interessante observar o modo como a direção de Kika Freire bem apresenta o colorido, o lúdico, o adocicado contexto inicial como superfície de um quadro que, lentamente, será muito mais explorado com o pulsar da narrativa. Por vezes monotonamente poético demais, o texto tem o mérito de esconder o máximo que pode a revelação final. É nisso que consiste sua proposta: um longo lamento que disfarça um crime, uma vítima que antecede um culpado, a loucura que pode confundir um relance de sanidade.

Chamados Maestro e Bailarina, os personagens interpretados por Cadu Fávero e por Fernanda de Freitas levam o espectador a fruir, até os últimos momentos, outros traços de suas estruturas particulares. Talvez abandonado um nível mais são que o de sua parceira, o personagem de Fávero impõe ao intérprete mais desafios e menos graça. É através dele, enfim, que o quadro se completará, mas é por ela que ele será mais interessante. Fernanda de Freitas, exuberante na viabilização da Bailarina, mantém o texto difícil e a interpretação mais complexa ainda em alto nível. Um grande trabalho em termos de agilidade corporal e disposição para a dança em plena colaboração com o teatro. Parabéns.

Os maiores méritos de “Pulsões” são o cenário e o figurino de Teca Fichinski que viabilizam um contexto de plena liberdade a ser vibrantemente combatido com o desenrolar da peça. Mandalas, cores que caem do teto e caixas de música suspensas escondem amarras cartesianas, um passado sombrio e estados de choque. Ao lado de uma direção musical de Marcos França, em que se contemplam canções infantis de Heitor Villa Lobos principalmente, a ambientação sugere o conflito que a dramaturgia comenta. João Bittencourt e Maria Clara Valle tocam piano e violoncelo respectivamente ao vivo em elogiável contribuição. A caracterização é assinada por Rose Verçosa e a luz, que ajuda discretamente a dar maiores contornos para os quadros pouco evidentes, é de Fran Barros.

“Pulsões” fica em cartaz até o fim de agosto.

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Ficha Técnica:

De Dib Carneiro Neto
Direção: Kika Freire
Elenco: Fernanda de Freitas e Cadu Favero
Direção musical e Trilha sonora: Marco França
Piano: João Bittencourt
Violoncelo: Maria Clara Valle
Iluminação: Fran Barros
Cenários e Figurinos: Teca Fichinski
Caracterização: Rose Verçosa
Fotografia e Programação Visual: Victor Hugo Cecatto
Direção de Produção: Paula Salles
Coordenação Geral: Maria Siman
Produção Executiva: Joana D`Aguiar
Realização: Primeira Página Produções Culturais
Assessoria de Imprensa: Lu Nabuco Assessoria em Comunicação

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