quarta-feira, 7 de outubro de 2015

The Pillowman – O Homem Travesseiro (RJ)


Foto: divulgação

Daniel Infantini


Espetáculo imperdível


A peça “The Pillowman – O Homem Travesseiro”, dirigida por Bruno Guida e por Dagoberto Feliz, é a primeira versão brasileira do texto escrito pelo britânico Martin MacDonagh, escrito em 2003 e já montado em mais de 40 países. Ela estreou em junho de 2012, três meses antes da elogiada versão carioca, dirigida por Bruce Gomlevsky. Na história, o escritor Katurian é acusado de ter assassinado três crianças. As mortes delas se parecem com aquelas ficcionalmente narradas em alguns de seus contos. Traduzida por Guida, a dramaturgia ganhou, nessa montagem, estética expressionista que afiadamente é capaz de anunciar o tom de desequilíbrio dos personagens. Com Wandré Gouveia, Bruno Autran, Flávio Tolezani, Daniel Infantini e com o diretor no elenco, a produção tem ótimo resultado no âmbito de todas as interpretações, Pela excelência, Infantini se destaca. Em cartaz no Teatro Poeirinha, na zona sul, até 1º de novembro, eis aqui um dos melhores espetáculos de 2015 na programação do Rio de Janeiro. Imperdível!

A concepção expressionista singulariza a montagem
Imersos dentro de um regime totalitário, dois investigadores, Tupolski (Daniel Infantini) e Ariel (Bruno Guida), interrogam o escritor Katurian (Flávio Tolenzani). Ele é suspeito de ter assassinado três crianças. Na sala ao lado, Michal (Bruno Autran), o irmão deficiente mental de Katurian, também está preso. Os pais de ambos morreram há alguns anos de maneira que toda a sobrevivência de Michal depende do irmão escritor. Sob tortura, os depoimentos de um e de outro modificam o curso das duas vidas.

Quando a peça começa, a oposição entre a violência da polícia e a aparente ingenuidade do acusado denuncia os lobos e o cordeiro da situação inicial. Porém, com maestria no desenvolvimento da narrativa, MacDonagh modifica as posições da introdução, avançando em termos de complexidade. As frases finais revelam a aproximação entre os polos inicialmente distantes, a arte com força o bastante para mudar o mundo.

O texto é recheado com as histórias escritas pelo personagem Katurian, revelando o homem através de quem o mundo se dá a conhecer. Tanto do ponto de vista da forma como do de conteúdo, elas podem ter inspirado o panorama expressionista dessa concepção do diretor. Ao afastar-se do tom estilo realista, no qual a maior parte das produções mundiais encenaram o texto de MacDonagh, a direção de Guida e de Feliz fez vir à luz, com renovada força, aspectos bastante interessantes.

O expressionismo sustenta um quadro deformado pelas emoções. De alguma maneira, todos os personagens são traumatizados e é, nessa perspectiva, que se baseiam os empenhos deles em mudar o mundo. A poesia está no vislumbre de que nenhum deles se arrepende do que faz, porque todos desejam para a sociedade uma situação melhor.

Daniel Infantini se destaca em ótimo conjunto de atuações
Nessa montagem, há ainda visível apreço pelas palavras bem ditas, pela investigação dos tons, pelas potencialidades dos sentidos articulados. A iluminação de Aline Santini valoriza a escuridão para além do centro da cena, onde os personagens são vistos sempre parcialmente. O figurino de Daniel Infantini participa de forma plenamente ativa na concepção do espetáculo, apresentando os personagens a partir de suas deformidades, sujeiras e de suas mágoas. O cenário de Ulisses Cohn, assim como a trilha sonora de Bruno Guida, ocupam menor espaço no todo, equilibrando o quadro. Eles complementam estruturando um lugar frio, burocrático e tecnicista em que a infância ideal permanece como contraponto no horizonte.

Todos os trabalhos de interpretação são bastante positivos. Wandré Gouveia, o único que interpreta vários personagens, mantém-se positivamente econômico em oposição direta às construções de seus pares. O policial de Bruno Guida sustenta olhos baixos, como que focado em empregar somente força para corrigir os erros do mundo. Bruno Autran consegue oferecer a lógica à apresentação do raciocínio conturbado de seu Michal. Com isso, faz das barreiras psicológicas de seu personagem uma poética para a sociedade lindamente.

Flávio Tolezani faz do medo o vírus e o anticorpo de seu Katurian em um trabalho complexo e bastante meritoso de interpretação central da história. Em Daniel Infantini, porém, está o melhor dessa versão de “The Pillowman”. Tanto no modo como os diálogos ganham gosto, novos sentidos e agilidade, como na maneira como o ator se movimenta e reage aos movimentos da estrutura, sua atuação é exuberante!

Espetáculo imperdível
Escrita, em especial, para quem admira o poder das palavras de dar a ver imagens complexas, essa dramaturgia mostra a exuberância do teatro britânico contemporâneo. Em cartaz no Rio, um dos pontos altos da programação teatral carioca de 2015.


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Ficha Técnica:

Texto: Martin McDonagh

Direção: Bruno Guida e Dagoberto Feliz

Elenco: Bruno Autran, Bruno Guida, Daniel Infantini, Flavio Tolezani e Wandré Gouveia

Figurinista: Daniel Infantini

Confecção de Figurinos: Glória Coelho

Cenário: Ulisses Cohn

Iluminação: Aline Santini

Fotografia: João Caldas

Oficina de Contação de Histórias: Luciana Viacava

Oficina de Bufão: Bete Dorgam

Designer Gráfico: Fernando Bergamini

Assistente de Produção: Juliana Mucciolo
Produtores Associados: Bruno Guida e Edinho Rodrigues

Direção de Produção: Brancalyone Produções Artísticas (Edinho Rodrigues)

Produção Rio de Janeiro: Lis Maia

Realização: Pitaco Produções e Brancalyone Produções Artísticas

Assessoria de Imprensa: Lu Nabuco Assessoria em Comunicação