quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Versão brasileira Möeller & Botelho – 25 anos de musicais (RJ)

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Foto: divulgação

Malu Rodrigues e Cláudio Botelho


As bodas de prata do teatro musical no Brasil

“Versão brasileira Möeller & Botelho – 25 anos de musicais” marca o aniversário de carreira de Charles Möeller e de Cláudio Botelho, também conhecidos como “Os Reis dos Musicais no Brasil”. O show se constrói a partir da narrativa de alguns aspectos da trajetória dos dois, mas é principalmente lugar para Botelho e para Malu Rodrigues encantarem o público com belíssimo repertório do teatro musical internacional. Boa parte das canções são apresentadas em português, intercaladas com falas que relembram seu contexto na carreira da dupla. A temporada no Teatro Clara Nunes, no Shopping da Gávea, mostrou uma produção que guarda em si todo o rigor estético que caracteriza os Reis e a oferta de momentos de êxtase estético da melhor qualidade.

Canções de musicais no belíssimo repertório
O repertório começa com “Let’s call the whole thing off” (Ou “You say ‘tomato’, I say ‘tomato’) do musical “Shall we dance” que remete à produção brasileira “Hello, Gershwin”, de 1990. Nele, sob direção de Marco Nanini, Claudio Botelho dividia o palco com Claudia Netto com figurinos assinados por Charles Möeller. Foi, há 25 anos, que os dois trabalharam juntos pela primeira vez. Segue a entrada de Malu Rodrigues em cena quando ela e Botelho cantam “Sixteen going on seventeen”, lembrando o musical “A noviça rebelde” (2008). Rodrigues interpretava Luisa, uma das filhas do Capitão Von Trapp e foi lá que a dupla a conheceu. Ainda nesse trecho, Malu canta “The hills are alive” e outra de “O Despertar da Primavera” (2009), que ela protagonizou. Há ainda “On my own” e “I dreamed a dream”, de “Les Miserables”, cuja versão brasileira assinada por Botelho foi levada à cena sob direção do britânico Ken Caswell em 2001. “Maria” e “There’s a place for us”, de “West Side Story” (2008) aparecem antes de “If I was a richman”, de “O violinista no telhado” (2011), e “Money”, de “Cabaret”.

Canções que remetem a “7 – O musical” (2007), “Ópera do Malandro” (2003), “Sassaricando – E o Rio inventou a marchinha” (2007) e “Todos os musicais de Chico Buarque em 90 minutos” (2014) também têm lugar. O melhor momento da noite é dedicado a “Send in the clowns”, de “Little Night Music”, composta por Stephen Sondheim. “Let’s the sunshine in”, de “Hair” (2010), termina o show com alegria e exuberância.

Cláudio Botelho e Malu Rodrigues em ótimos momentos
Apesar de ser um show, “Versão Brasileira Möeller e Botelho” é facilmente analisável sob o âmbito do teatro porque todas as suas canções advêm do cenário das artes cênicas. Nesse sentido, pode-se dizer que Cláudio Botelho e que Malu Rodrigues têm registros de expressão diferentes na defesa do espetáculo. Enquanto ele investe em marcas mais claras de evolução das sensações, ela é mais sóbria, mais contida, mas não menos potente. O conjunto é bastante bom: juntos eles se equilibram. Malu Rodrigues é uma estrela de primeiríssima grandeza, a maior de sua geração para o orgulho do teatro brasileiro. Cláudio Botelho preenche com interpretação as canções e emociona também. Vê-los em cena é um privilégio.

O cenário é composto por um conjunto de sofás, abajures e tapetes que, trazendo muita elegância para o palco, preenche a cena enquanto enche os olhos. O contexto, com cores sóbrias, cria um clima aconchegante e íntimo que auxilia o espectador a adentrar no universo de cada canção. Os músicos Edgar Duvivier, Marcelo Castro e Thiago Trajano, que de certa forma também fazem parte do aniversário que tematiza a obra, participam do quadro reforçando o aspecto afetivo da produção, mas também obviamente sua altíssima qualidade. Os três também estiveram em “Versão brasileira”, espetáculo produzido pela dupla em comemoração aos seus vinte anos de carreira no mesmo formato.

Quem ganha é o público
Cláudio Botelho e Charles Möeller, enfrentando o preconceito que pairava sobre o gênero musical, deram novo ar para as produções brasileiras. Seus padrões estéticos altíssimos, seu rigor formal e seu apreço pelo melhor público estabeleceram uma classe de artistas e técnicos que hoje é plenamente reconhecida. Mais do que isso, depois deles, e de suas 36 produções, fica difícil fechar os olhos para o mal feito. O aniversário é deles, mas quem ganha é o público.


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Ficha técnica:

Direção: Charles Möeller

Com: Cláudio Botelho e Malu Rodrigues

Músicos: Edgar Duvivier, Marcelo Castro e Thiago Trajano