segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Cine Atlântida! – Uma chanchada musical (RJ)

Curta nossa página no Facebook: www.facebook.com/criticateatral
Siga-nos no Instagram: @criticateatral

Foto: divulgação

Vitor Martinez, Rodrigo Naice, Thiago Prado e Carla Odorizzi

Ótimo espetáculo homenageia a fase de ouro do cinema nacional

O ótimo “Cine Atlântida! – Uma chanchada musical” celebra a fase de ouro do cinema brasileiro com muitos méritos. Com texto e direção de Rubens Lima Jr., a história lembra o clássico “Aviso aos navegantes”, filme de 1951 dirigido por Watson Macedo. A narrativa gira em torno de um grupo de artistas que, em uma viagem de navio à Argentina, se envolve na caçada a um mágico ladrão de joias. Como acontecia naquele tempo, a história era pretexto para os quadros com artistas expoentes da música popular. Aqui é mais do que isso: a produção é lugar de homenagem a nomes fundamentais da comédia brasileira do século XX. Com elenco em bons trabalhos e ótima direção musical, a peça tem destaque na excelência dos figurinos de Beth Serpa, que enchem os olhos da plateia. Enquanto assiste, a plateia aproveita o delicioso chá servido pela casa com todo o requinte que o público carioca merece. A montagem está prevista para ficar em cartaz até maio na Casa de Arte e Cultura Julieta de Serpa, no Flamengo, zona sul do Rio de Janeiro.

Personagens notórios da comédia musical brasileira
Várias marcas na atuação fazem com que seja fácil identificar os personagens como reconstruções de Zé Trindade (Thiago Prado), Ivon Cury (Marcus Brandão), Oscarito (Vitor Martinez), Grande Otelo (Carlos Maia), Ankito (Rodrigo Naice) e José Lewgoy (Rodrigo Serphan). O repertório musical, coberto de marchinhas de carnaval e outras músicas populares do repertório brasileiro do século XX, são ainda apresentadas por Carla Odorizzi, Lucia Bianchini e Tatty Caldeira que trazem Marlene, Emilinha Borba, Aurora e Carmen Miranda, Zezé Macedo, Dercy Gonçalves, Glauce Rocha, Adelaide Chiozzo, Irmãs Galvão, Linda e Dircinha Batista, Dalva de Oliveira, Ângela Maria, Aracy de Almeida, Virgínia Lane entre outras. Nesse sentido, ao mesmo tempo em que é uma boa história e bem contada, o original “Cine Atlântida” é também uma homenagem a astros e estrelas que, ao longo de décadas, trouxeram e trazem alegria ao nosso povo.

O humor ingênuo, mas às vezes nem tanto, a narrativa fluída, os personagens bem marcados e a estrutura simples que caracterizavam as chanchadas também fazem parte do ideário estético do espetáculo. Sobretudo há que se destacar o comprometimento com o cuidado, com a qualidade, com os detalhes de modo que, em "Cine Atlântida", das marcações ao texto bem dito, dos figurinos cheios de detalhes ao desenho de luz, da orquestra tocando ao vivo à ótima relação com o público, tudo está habilitado para ganhar os melhores elogios da crítica mais severa.

Vitor Martinez e Thiago Prado em excelentes atuações
Nas intepretações, destacam-se Carla Odorizzi (Marlene) e Rodrigo Naice (Ankito), mas principalmente Vitor Martinez (Oscarito) e Thiago Prado (Zé Trindade), todos pela qualidade dos meios mobilizados para alcançar o público e fazer jus à história. Não só na corporalidade, mas também nos aspectos musicais, esses intérpretes elevam as qualidades estéticas do espetáculo como um todo.

O belíssimo figurino de Beth Serpa
Dentre todos os aspectos de “Cine Atlântida”, os figurinos de Beth Serpa são destaque. Cena após cena, um vasto guarda-roupa faz as vezes de cenário, enchendo de cores o palco e fazendo evoluir a história. Fazendo ótima relação com a época retratada, a paleta de cores, texturas e estampas chamam a atenção pelo preciosismo técnico, demonstrando nobre pesquisa e vital colaboração.

Com ótima direção musical e arranjos de Guilherme Menezes, “Cine Atlântida! – Uma chanchada musical” é um dos melhores espetáculos em cartaz na programação teatral do Rio. Valeapeníssima assistir. Aplausos!

*

Ficha técnica:
Texto e direção: Rubens Lima Jr.
Cenários e figurinos: Beth Serpa
Operador de som: Paulo Pessoa
Operador de luz: Diego
Execução dos figurinos: Gigi Monteiro
Alfaiataria: Eliezer Gonçalves
Direção musical e arranjos: Guilherme Menezes
Músicos: Ayres D’Athayde (bateria), Francisco Nilson e Carlos Henrique (contrabaixo), Cláudio Ávila (piano), Bruno Marques (sax e flauta) e Guilherme Menezes (violão)
Elenco: Carla Odorizzi, Carlos Maia, Lucia Bianchini, Marcos Brandão, Rodrigo Naice, Rodrigo Serphan, Tatty Caldeira, Thiago Prado e Vitor Martinez
Produção geral: Carlos Alberto Serpa

sábado, 27 de fevereiro de 2016

Hamlet – Processo de Revelação (RJ)

Curta nossa página no Facebook: www.facebook.com/criticateatral
Siga-nos no Instagram: @criticateatral

Foto: divulgação


Emanuel Aragão

Muitos problemas no monólogo sobre "Hamlet"

“Hamlet – Processo de Revelação” é um espetáculo com tantos problemas que seus méritos acabam por ser bem poucos. É claro que, consideradas as dificuldades de fazer teatro, sempre é preciso aplaudir quem se aventura. No entanto, coragem e pretensão são palavras com significado parecido, mas não sinônimas. No monólogo, com dramaturgia e interpretação de Emanuel Aragão, há uma série de questões que mal se aproveitam do clássico shakespeareano, substituindo as reflexões mais nobres e principalmente o feito maior é que seria o de interpretá-lo. O problema mais grave da montagem dirigida pelos irmãos Adriano e Fernando Guimarães é a confusão de propostas. Sem se decidir por qualquer uma, e nem aprofundar nenhuma, a peça fracassa e não é preciso ser Bárbara Heliodora (1923-2015) para perceber isso. Para discordar ou concordar, o espetáculo está em cartaz no Teatro 2 do Centro Cultural do Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, até amanhã. É bem provável que cumpra outras temporadas aqui e pelo país.

Os três movimentos da dramaturgia de Emanuel Aragão
Três movimentos são bem claros na dramaturgia de "Hamlet – Processo de Revelação” assinada por Emanuel Aragão. O primeiro é uma exploração do campo semântico do texto original de William Shakespeare (1564-1616). O monólogo começa com a história de um chinês de 84 anos que quis acabar com a própria vida, mas depois se distraiu enquanto lia as notícias do dia. Avança a partir da narrativa de momentos (talvez ficcionais, talvez não) que sucederam a notícia do falecimento do pai (ou de Aragão, ou dos diretores?) e os encaminhamentos do velório. Ainda inclui outras pequenas narrativas que, embora aparentemente reais talvez não sejam. O objetivo é explorar o universo significativo de “Hamlet”, oferecendo novas abordagens para o público experimentar seu sabor. Se só “Hamlet” já não bastasse ou se esse investimento realmente dessa conta de ir além do básico, sem dúvida, essa seria uma grande colaboração da proposta à grade da programação teatral carioca. Por motivos que a seguir serão apontados, não o é.

O segundo esforço da peça está em revelar o processo de interpretação de “Hamlet”. Em cena, o ator Emanuel Aragão revela pesquisa elementar sobre o clássico shakespeareano, apresenta sua tradução sobre o solilóquio mais famoso (“ser ou não ser”) do teatro universal e se empenha em, ato por ato, descrever um pretenso contexto narrativo que ele criou para interpretar o personagem. Uma vez que o original, nesses últimos quatrocentos anos, tem sido objeto de análise de estudiosos do mundo inteiro, não é difícil reconhecer a fragilidade das dúvidas que Aragão apresenta. Além disso, a beleza dos versos de Shakespeare e a profundidade do texto justamente têm sido objeto de reflexão porque eles valem muito mais que as motivações interpretativas que cada ator cria para si.

O terceiro movimento é a interpretação de trechos de “Hamlet”, feito esse que seria mais valoroso se não perturbado pelos outros dois. Eles alongam a narrativa, dispersam a atenção e, chamando a atenção mais para Aragão do que para Shakespeare, acabam por fazer a inglória batalha perder.

Direção deixa o lugar do ator ainda mais perigoso
Quando a peça começa, Emanuel Aragão está sentado no proscêncio acompanhando o público procurar o seu lugar para se sentar. Logo de início, o ator explica as “regras” do que ele chama de “conversa”: as luzes da plateia permanecerão acesas como sinal de que será possível o público interrompê-lo, manifestando-se, interagindo, participando da peça. Também que, por inclusive não ter duração previamente estabelecida, as pessoas podem ir embora quando achar que devem. No entanto, em mais de uma oportunidade, na sessão a que essa análise quer corresponder, ficou claro que o intérprete se vê em lugar mais perigoso do que o esperado. O texto é longo e difícil e, por vezes, fica difícil lidar com as colocações que o público faz. O misto de interpretação formalizada e improviso esbarra no desejo de Aragão de apresentar o seu espetáculo até o fim.

Dono de um raro direito à palavra, o público quer se manifestar. Considerando que o original tem cinco atos, fica fácil perceber o quanto toda a proposta se alonga. Dirigido por Adriano e por Fernando Guimarães, o ritmo do espetáculo cai também porque nem se consegue adentrar no íntimo do príncipe da Dinamarca, nem se se compreende bem o intento da proposta. O purismo da dramaturgia (que se volta para si) não encontra eco na narrativa trágica elisabetana. E tudo fica mais parecendo um auto-elogio (pronto para agradar os amigos dos realizadores) do que uma partilha estético-artística com a plateia profissional.

Questões finais
Emanuel Aragão se esquece de questões muito relevantes sobre “Hamlet”. Escrita entre 1599 e 1601, toda a narrativa acontece mais ou menos dois meses depois do falecimento do misterioso Rei Hamlet e um mês após o casamento da Rainha Gertrudes com seu cunhado Cláudio, irmão do Rei. Toda a peça se passa nos corredores do poder da Dinamarca, afrontada pela Noruega em algum século final da Idade Média. Em nenhum momento das mais de quatro mil linhas do texto, fica claro onde estava o príncipe Hamlet (cuja idade varia entre 20 e 30 anos na opinião dos teóricos) quando esses acontecimentos tiveram lugar, mas se sabe que ele está enlutado e também que permanece príncipe, isto é, foi-lhe usurpada a coroa. A peça, assim, passa ao largo de um drama burguês em que um filho vinga o pai por quem chora copiosamente, mas alcança outras vias, do poder ao existencialismo. 

Profundamente inspirado pelas tragédias latinas (Plauto, Terêncio e Sêneca) e pelos romances de cavalaria, Shakespeare tinha uma noção de tragédia cuja origem vinha da Grécia. Ou seja, o conceito de liberdade naquela sociedade estratificada esbarrava não apenas nos limites sociais, mas no divino, no inexplicável, no além. Imerso na cultura elisabetana em que católicos e protestantes duelavam pelo comando político da Europa, o bardo sabia para quem escrevia: as reviravoltas da política, o público conservador, os atores que valorizavam a palavra acima de qualquer outra coisa. Infelizmente, no entanto, nem Shakespeare, nem seus contemporâneos escreveram sobre a peça algo que tenha chegado até a contemporaneidade.

Nesse sentido, “Hamlet – Processo de Revelação”, na ânsia de colorir o personagem e a narrativa, fica ainda muito distante da sua essência, revelando mais a perda da oportunidade do estudo do que exatamente valor estético. Eu usei o direito concedido de ir embora no fim do primeiro ato ainda respeitando o intérprete e sua equipe, mas com uma avaliação negativa sobre esse trabalho em específico. Fica o convite para opiniões adversas.

*

HAMLET – PROCESSODE REVELAÇÃO
Dramaturgia: Emanuel Aragão
Direção: Adriano Guimarães / Fernando Guimarães
Elenco: Emanuel Aragão
Colaboração: Liliane Rovaris
Iluminação: Dalton Camargos / Sarah Salgado
Cenografia: Adriano Guimarães / Fernando Guimarães / Ismael Monticelli
Figurino: Ismael Monticelli / Liliane Rovaris -
Projeto Gráfico, site e fotografia: Ismael Monticelli
Direção técnica: Josenildo de Sousa
Assistência: Eduardo Jaime
Produção e administração: Quintal Producões | Veronica Prates

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

O Capote (MG)

Curta nossa página no Facebook: www.facebook.com/criticateatral
Siga-nos no Instagram: @criticateatral

Foto: divulgação



Rodolfo Vaz

Rodolfo Vaz em espetáculo imperdível

"O Capote" abrilhanta a programação teatral do Rio nesse fim do verão de 2016. A versão para teatro do conto de Nikolai Gógol (1809-1852), com adaptação assinada por Drauzio Varella e por Cássio Reis, tem direção de Yara de Novaes com Rodrigo Fregman, Marcelo Villas Boas no elenco. No papel principal, Rodolfo Vaz está em brilhante atuação. A história, que se passa na primeira metade do século XIX na Rússia, narra a desventura do funcionário público Akáki Akákievitch na conquista de um novo sobretudo de lã, um capote. A indumentária, além de protegê-lo contra o frio, tem o poder de oferecer um certo de tipo de ascensão social, aspecto que facilmente faz a narrativa servir de reflexão para essa contemporaneidade aficionada por novos I-Phones, roupas de grife e carros de luxo. O espetáculo pode ser conferido até 13 de março no Teatro 1 do Centro Cultural do Banco do Brasil no centro. 

A contemporaneidade da narrativa de Gógol
O cinquentão pobre e solitário Akáki Akákievitch sente o inverno castigar-lhe o corpo coberto por um capote cada vez mais puído. A necessidade esbarra no alto preço cobrado pelo alfaiate inicialmente, muito além de suas posses. Aos poucos, a narrativa original do russo Nikolai Gógol vai evoluindo em um movimento que pode ser analisado duplamente. Do ponto de vista da identidade, o olhar do outro por sobre o protagonista acaba por colocar em xeque sua subjetividade. Quanto à análise social, o conto serve como reflexão sobre o movimento de consumo: um objeto não é só visto pela sua utilidade, mas também pela sua capacidade de representar status social, alçando o consumidor para realidades até então estranhas.

Os sacrifícios homéricos que Akáki Akákievitch – vale notar que o nome do personagem é o mesmo do seu pai, outro elemento que anuncia sua falta de individualidade – em prol da compra de um novo capote dominam a narrativa. O desenvolvimento da história acentua as largas diferenças entre os pontos inicial e final desse conto lançado vinte e cinco antes de "O Capital", de Marx, mas já cheio de reflexões sociais que depois ganharam outras leituras. O advento da indústria e ampla aparelhagem dos meios de comunicação de massa tornaram o mundo de hoje bastante parecido com aquele descrito em "O Capote". Esse aspecto enche de méritos o projeto de adaptação dessa literatura para teatro.

A força da estética nessa direção de Yara de Novaes
Ao lado do dramaturgismo de Cássio Pires, a direção de Yara de Novaes revela a importância do equilíbrio entre o protagonista e o mundo que o circunda. Diferente de outras obras célebres do realismo psicológico – do qual Dostoiévski e Tchekhov são expoentes –, em "O Capote", o entorno não é apenas a paisagem e nem tampouco o algoz. Sem identidade, o anti-herói acaba invadido naturalmente no livro e na versão teatral. No palco, toda a estética de Novaes traz essas pistas: a paleta de cores regularmente sorumbática, a ampla exploração visual dos quadrados e o mobiliário apático do ótimo cenário de André Cortez. A iluminação de Bruno Cerezoli dá importância para os espaços escuros, recortando os personagens quando esses são trazidos pelo curso da narrativa para o primeiro plano e só nesses momentos. A trilha sonora interpretada ao vivo por Sarah Assis, presente na cena, inclui na argumentação a falta de vida dos sons eletrônicos. Com isso, oferece quase uma versão prêt-à-porter da música como meio de aproximar a questão narrativa de uma reflexão atual. De modo ainda mais claro, os figurinos de Cortez fazem o mesmo.

A brilhante interpretação de Rodolfo Vaz
Ao lado de Rodrigo Fregman e de Marcelo Villas Boas em bons trabalhos, Rodolfo Vaz apresenta uma interpretação que é excelente. Paulatinamente, o vínculo com a estética mais clownesca vai sendo abandonada não se sabe se pelo sufoco causado pela narrativa cada vez mais angustiante, se pela crítica realista mais afiada ou se pelo heroísmo mais impossível. Ao longo da encenação, o personagem Akáki Akákievitch vai sucumbindo pela tentação demoníaca a qual ele não pode resistir, deixando de viver em seu mundo original e ganhando o proscênio. Lá ele se encontra com o público, onde pode apunhalá-lo, vingando-se, mas ao mesmo tempo colocando-se em sacrifício em prol da reflexão. Eis um belo momento de Vaz como intérprete!

"O Capote", depois de estar em São Paulo e em Belo Horizonte, é um dos pontos altos agora da grade teatral do Rio de Janeiro. Imperdível!

*

Ficha Técnica
Autor: Nikolai Gogol.
Adaptação: Drauzio Varella.
Dramaturgia: Cássio Pires.
Direção: Yara de Novaes.
Elenco: Rodolfo Vaz, Rodrigo Fregnan e Marcelo Villas Boas.
Musicista: Sarah Assis.
Cenografia e figurinos: André Cortez.
Trilha sonora e música original: Dr.Morris.
Vídeo arte e design de projeção: Rogerio Velloso.
Criação de luz: Bruno Cerezoli.
Visagismo: Leopoldo Pacheco.
Arte e projeto gráfico: Lápis Raro.
Fotografia: João Caldas.
Produção: Oitis Produções Culturais
Produção executiva : Rose Campos

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Depois do amor (RJ)

Curta nossa página no Facebook: www.facebook.com/criticateatral
Siga-nos no Instagram: @criticateatral

Foto: divulgação


Danielle Winits e Maria Eduarda De Carvalho

Um espetáculo surpreendente

Danielle Winits surpreende em sua interpretação de Marilyn Monroe na peça "Depois do amor". O espetáculo escrito por Fernando Duarte foi a última produção dirigida por Marília Pêra (1943-2015), que faleceu no mesmo dia em que a peça estreou no Teatro Amazonas em Manaus. Além de Winits, Maria Eduarda De Carvalho está no elenco nessa temporada do Teatro Vanucci, no Shopping da Gávea, na zona sul do Rio de Janeiro. Na história, a personagem fictícia Margot Taylor é uma assistente de figurino do filme "Something's got to give" que vem para tirar as novas medidas da diva do cinema americano. Dez anos antes, Marilyn havia roubado o namorado Margot, Joe DiMaggio, casando-se com ele. E agora as duas precisam resolver essa questão. A peça fica em cartaz até 6 de março e vale a pena ser vista.

Realidade e ficção no texto original de Fernando Duarte
Os melhores momentos de "Depois do amor" são aqueles em que a peça se afasta da aparência do documental. É quando as duas personagens em cena – Marilyn e Margot – estão equânimes, prontas para um combate de igual para igual. São nas cenas finais em que mais vezes isso acontece.

O texto parte de um contexto nebuloso, dividido entre fatos reais e outros ficcionais ou conspiratórios. No início de 1962, Marilyn Monroe (1926-1962) encabeçava a produção de "Something's got to give", filme que salvaria a FOX das dívidas que "Cleópatra" cada vez mais terrivelmente aumentava. Nos primeiros dezessete dias de filmagem, porém, ela apareceu apenas uma vez no estúdio, alegando sempre problemas de saúde. Quando isso aconteceu, ela estava dez quilos mais magra, o que exigiu a remodelagem de todos os seus figurinos.

Também é real que, dez anos antes, em 1952, através de um amigo, o jogador de baseball Joe DiMaggio (1914-1999) conseguiu um encontro com Marilyn. Ambos, mundialmente famosos por suas carreiras no esporte e no cinema, haviam se divorciado e estavam oficialmente solteiros. O casamento entre eles aconteceu em janeiro de 1954 e terminou em outubro. Católico conservador, DiMaggio queria de sua segunda esposa o mesmo que almejava da primeira, a atriz Dorothy Arnald (1917-1984): que ela abandonasse a carreira e se tornasse apenas uma dona de casa. Marilyn não topou.

No início dos anos 60, Monroe e DiMaggio voltaram a se encontrar. Sabe-se que, nesse período, ela estava apaixonada pelo então presidente John F. Kennedy (1917-1963), em cujo aniversário ela sensualmente cantou "Happy Birthday". Os direitos autorais da canção pertenceram até fevereiro de 2016 à Warner, concorrente da Fox, onde Marilyn deveria estar filmando "Something's got to give" naquele maio de 1962. O filme permaneceu inacabado. Marilyn Monroe foi encontrada morta em sua casa em 5 de agosto de 1962 e, apesar de diversas teorias conspiratórias, a informação oficial ainda é a de que ela cometera suicídio a partir da ingestão de barbitúricos.

De modo prejudicial, o espetáculo "Depois do amor" faz força em se apresentar como um documentário, talvez confiando pouco em sua capacidade de ser uma boa ficção. Na gravação final, a dramaturgia afirma que a estrela foi assassinada, mas essa é apenas uma hipótese defendida pelo livro "O assassinado de Marilyn Monroe: caso concluído", dos jornalistas Jay Margolis e Richard Buskin. Não há também relatos da existência real de Margot Taylor. Esses desvios, no entanto, não tiram o mérito do todo. O aspecto humano por trás das duas mulheres cuja amizade se rompeu por causa de um homem é o que prende a atenção na história mesmo daqueles que só vieram assisti-la por conta do ícone cinematográfico.

Em outras palavras, quanto mais nítido fica o duelo entre as duas mulheres, melhor para as personagens (que ficam mais fortes), para a narrativa (que fica mais interessante) e para o público (que se desprende da tarefa de checar fatos e se solta na fruição de uma boa história). Nesse sentido, enquanto sobram diálogos informativos, valorizam-se os criativos. E é por eles que a dramaturgia de Fernando Duarte merece aqui parabéns.

Desafios vencidos nas interpretações
Danielle Winits (Marilyn Monroe) e Maria Eduarda De Carvalho (Margot Taylor) têm um começo difícil, mas conseguem sair dele bem. De um lado, Winits têm a árdua tarefa de interpretar uma das maiores estrelas do cinema internacional em um dos seus momentos mais complexos, mais explorados, mais revisitados. Nossa intérprete assim, em evidente coragem, lida inicialmente com altas cobranças que dizem respeito à sua aparência, à relação entre realidade e ficção e à situação que a narrativa de "Depois do amor" lhe impõe. É bonito ver como Winits, pouco a pouco, desliza pelas barreiras e, talvez tocada, também toca o público com sua versão original, humana e elogiosa.

De outro, Maria Eduarda De Carvalho precisa, no início da peça, apresentar sua personagem e defende-la no âmbito de seu contexto e de seu conflito para, em seguida, disputar lugar com a de Winits. Consciente de que só uma luta de igual para igual poderá dar à narrativa algum valor, Carvalho tem interpretação meritosa sobretudo quando sua personagem "amolece". É aí que se veem as nuances alternadas em exploração potente. Por ter desenhado, essa dança entre Winits e Carvalho, a direção de Marília Pêra, assistida por Fernando Philbert, teve aqui ótimo resultado.

São elogiáveis as colaborações do cenário de Natália Lana, aqui em seu melhor trabalho, e dos figurinos de Sônia Soares. Mais discretas, com menos requisições do texto, a trilha sonora de Paula Leal e a iluminação de Vilmar Olos também cumprem bem seu papel.

Produção de Cássia Villabôas e de Fernando Duarte
É possível que o título "Depois do amor" faça alguma relação com "Depois da queda", peça escrita pelo famoso dramaturgo Arthur Miller (1915-2015), terceiro marido de Marilyn Monroe, dois anos depois da morte da estrela. Lá como cá, as crises dão lugar a uma relação mais sólida, a uma reflexão mais duradoura. Eis aqui um espetáculo surpreendente!


*

FICHA TÉCNICA:
Autor: Fernando Duarte
Direção: Marília Pêra
Atores: Danielle Winits e Maria Eduarda De Carvalho
Trilha Sonora: Paula Leal
Cenário: Natália Lana
Figurinos: Sônia Soares
Iluminação: Vilmar Olos
Design: Ronaldo Alves
Fotógrafa: Lúcio Luna
Visagista: Max Weber
Ass. Figurinos: Juliana Barja
Confecção e cenotecnia cenário: André Salles e Equipe
Assessoria de Imprensa: Rafael Barcellos / Stratosfera
Operador de Luz: Walace Furtado
Operador de Som: Thiago Pinto
Contrarregra: Ricardo da Silva
Dir. de Produção: Cássia Vilasbôas e Fernando Duarte
Assistente Produção: Mayara Maia
Adm. Financeira: Karime Kawaja
Assessoria Jurídica: Jonas Vilasbôas
Produção: NOVE Produções
Produtora Associada: Winits Produções
Realização: NOVE Produções

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Meu passado me condena - A peça (RJ)

Curta nossa página no Facebook: www.facebook.com/criticateatral
Siga-nos no Instagram:@criticateatral

Fábio Porchat e Miá Mello
Foto: divulgação

O maior sucesso teatral desse verão carioca

“Meu passado me condena – A peça” é o maior sucesso do teatro no verão carioca de 2016. A montagem, dirigida por Inez Viana com texto de Tati Bernardi, tem tido sessões lotadas no Teatro das Artes no Shopping da Gávea, confirmando a preferência do grande público da cidade por comédias. No elenco, Fábio Porchat e Miá Mello repetem os personagens da série de TV e do filme homônimos. Com os mesmos nomes dos atores que os interpretam, os personagens Fábio e Miá se conheceram em uma fila de banheiro e se casaram um mês depois. O público assiste à noite de núpcias do casal, quando eles de fato se conhecem e decidem se valerá a pena continuar juntos. Um espetáculo engraçado!

Os méritos da dramaturgia
“Meu passado me condena”, com roteiro de Tati Bernardi e direção de Júlia Rezende, foi uma série de sucesso no canal de televisão por assinatura Multishow que estreou em 2012. Um ano depois, veio o filme com a mesma equipe. Em 2015, foi lançada a continuação. Os números de Ibope e de bilheteria revelam o modo positivo com que o público brasileiro recebeu as produções. De alguma maneira, a narrativa corresponde às expectativas dos espectadores, conversa com eles, com seus anseios, reflexões e valores. Nesse sentido, a obra pode ser analisada como um tipo de retrato – parcial, mas sólido – da contemporaneidade, o que é um enorme mérito.

De início, a dramaturgia de Tati Bernardi reforça os preconceitos iniciais, mas talvez com vistas a não criar barreiras a quem está conhecendo os personagens. Fábio se casa porque acha Miá sexualmente atraente, ela porque tem medo de envelhecer ainda solteira. Ele é financeiramente mais limitado que ela, Miá é intelectualmente mais complexa que Fábio. Quando a história começa, os dois estão chegando da festa de casamento ao quitinete em Copacabana que ele comprou para ambos morarem. Há caixas por todos os lados, a cama ainda não chegou e os dois precisam fazer hora antes de pegar o voo que os levará para a lua de mel. É aí que o conflito começa.

Pouco a pouco, com habilidade, o texto oferece nuances que distanciam a narrativa da ratificação de estereótipos. O tema da vida sexual pregressa de ambos vem à baila, revelando problemáticas bem atuais. Questões familiares, sociais e religiosas também, deixando ver o jeito leve com que parcela de nossa sociedade (felizmente) encara esses assuntos apesar de seus aspectos mais sérios.

Sem dúvida o maior mérito do texto é jeito como a história caminha, alternando-se em nuances diferentes. Bernardi renova o fôlego da narrativa para além apesar de não haver nem mudanças de cenário ou de figurino, nem entradas e saídas de terceiros personagens. Dadas as dificuldades disso, eis aqui um ponto positivo a se destacar entre outros. Mais que tudo, o público se diverte e qualquer pessoa que gosta de teatro aplaude uma plateia lotada e não só a peça que ela confere.

Fábio Porchat e Miá Mello formam uma bela dupla!
No que diz respeito às interpretações, Fábio Porchat tem problemas de dicção e investe pouco em novas modulações de energia, de corpo e de voz. Fixo no personagem que a fama lhe consagrou, em “Meu passado me condena – A peça”, ele experimenta nada. No entanto, como numerosos comediantes que nossa história acumula, seu carisma é enorme. Acrescenta-se ainda sua indiscutível inteligência cênica, essa que nota através de uma soberba noção de ritmo aqui. Miá Mello, aproveitando melhor as oportunidades, defende com zelo e potência seu direito de brilhar ao lado de Porchat, ganhando no teatro os mesmos elogios a ela já feitos por suas atuações nesse personagem na TV e no cinema. Os dois formam uma bela dupla!

Em “Meu passado me condena – A peça”, os aspectos estéticos também são positivos. Visualmente, o espetáculo é muito simples, mas isso não quer dizer que não tenha havido concepção, planejamento e controle de viabilização. Enorme quantidade de caixas de papelão dominam o ambiente no cenário de Aurora dos Campos, que representa um apartamento recém ocupado. Uma estrutura de madeira delimita o espaço, fechando e concentrando o quadro dentro do palco do Teatro das Artes. No figurino de Juli Videla e na luz de Tomás Ribas, não há grandes destaques e na trilha sonora de Marcelo Alonso Neves também não, mas a montagem atende bem às necessidades da narrativa.

Comédia de sucesso
Em sua sétima direção, Inez Viana, aqui assistida por Junior Dantas, assina a responsabilidade pela elogiosa encenação dessa comédia, existente na TV e no cinema, mas que agora se encontra com o teatro. “Meu passado me condena – A peça” vale a pena ser visto e é digna da numerosa plateia que tem recebido no Rio de Janeiro e que há de ganhar outros palcos pelo país. 

*

Ficha Técnica
Elenco: Fábio Porchat e Mia Mello
Texto: Tati Bernardi
Direção: Inez Viana
Assistente de direção: Júnior Dantas
Direção Musical e Trilhas: Marcelo Alonso Neves
Iluminação: Tomás Ribas
Cenografia: Aurora dos Campos
Assistente de cenografia: Julia Saldanha
Figurinos: Juli Videla
Assistente de figurinos: Alessandra Padilha
Arte e design: Marcos Guimarães
Assessoria de Imprensa: Luiz Mena Barreto
Produção executiva: Ricardo Almeida (Rick)
Diretor de produção: Sergio Sayd
Realização: Sayd Empreendimentos Culturais

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Roma (RJ)

Curta nossa página no Facebook: www.facebook.com/criticateatral
Siga-nos no Instagram:@criticateatral

Foto: Carol Beiriz


Linn Jardim e Juliana Lohmann

Espetáculo encantador

“Roma” estreou no fim de 2015 e segue fazendo uma bonita temporada nesse verão carioca. Dirigida por Renato Farias, a peça teve texto livremente inspirado no belo filme “Um quarto em Roma”, do espanhol Julio Medem, lançado em 2010. Em meio a uma festa de réveillon em um hotel na capital italiana, Ana e Isabella fogem para o quarto da primeira, onde se conhecem e desfrutam de momentos de prazer. Para uma, mas talvez para ambas, nasce assim uma história de amor. Com Linn Jardim e Juliana Lohmann no elenco, o espetáculo é encantador. Voltará em cartaz entre os dias 19 e 28 de fevereiro na na Galeria do Teatro Sérgio Porto, no Humaitá, zona sul do Rio de Janeiro. 

Filme e Peça oferecem reflexões diferentes, mas igualmente nobres
O filme “Um quarto em Roma” e a peça “Roma” se diferem no modo como a história das duas personagens se relaciona com o que é exterior. Na obra escrita e dirigida por Julio Medem, Alba (Elena Anaya) é uma espanhola que, depois de ter se casado com homem na Arábia Saudita, voltou para a Europa onde viveu com uma mulher um romance que terminou há pouco. Natasha (Natasha Yarovenko) é uma atriz russa cuja personalidade se confunde com a de sua irmã gêmea. Ela está prestes a se casar com um homem. O encontro entre as duas se dá no primeiro dia do verão, em Roma, na Itália, para onde cada uma veio por motivos profissionais.

A narrativa do filme percorre em torno de dez horas em que Alba e Natasha passaram juntas no quarto da primeira. Nesse meio tempo, o espectador saberá que esses não são seus nomes verdadeiros. Além disso, entre elas, não se fala nem espanhol, nem russo, tampouco italiano, mas inglês. Isoladas em um país estrangeiro e com um idioma diferente, elas estão livres para ressignificar suas existências. Em uma das cenas mais bonitas do filme, uma bandeira branca tremula entre a de Roma e a da União Europeia enquanto a câmera sobe e o globo terrestre é contemplado. Está na hora do tipo de amor que se vivenciou ali não precisar mais se esconder, mas ganhar o mundo em paz.

O texto de “Roma”, em versão assinada por Guilherme Prates, não dá conta dessa reflexão mais política, centrando a dramaturgia no encontro entre as duas personagens. Na peça, elas se chamam Ana (Linn Jardim) e Isabella (Juliana Lohmann) e ambas são brasileiras. Em uma festa de réveillon na capital italiana, elas se conhecem e vão para o quarto de Ana enquanto os demais convidados comemoram. Depois de um jogo de sedução vencido arduamente pela anfitriã, as duas desfrutam da intimidade e conversam sobre si.

O público assiste à peça sentado em volta das atrizes em espaço plenamente branco e iluminado. Essa opção colabora com o espetáculo em sua primeira parte: Ana e Isabella, cujas histórias são quase iguais as de Alba e Natasha, estão se conhecendo. A festa lá fora dá sinais de que o ano novo já chegou e, dentro do quarto, jogos de prazer são divertidos. Quando a dramaturgia vira, no entanto, os resultados não são tão positivos.

Na segunda parte de “Roma”, muito diferente do que foi narrado do filme, as histórias de Ana e Isabella se misturam. Um drama se estabelece e ganha corpo, tomando o lugar da situação original. Essa nova força, porém, não tem uma estética que lhe valorize tão bem. Quando mais densos ficam os diálogos, mais constrangido fica o público, inadequado nessa nova energia. O espetáculo perde a boa fluidez de outrora.

Se, em “Um quarto em Roma”, torce-se até o fim para que o momento ganhe eternidade – o que não tira o valor do fugaz –, em “Roma”, a reflexão é outra. A capacidade do homem de reinventar a própria vida, e assim de alguma forma resolvê-la, é uma delas. E não se pode dizer que essa é menos valorosa que aquela.

Ótimas interpretações de Linn Jardim e de Juliana Lohmann
A direção de Renato Farias, assistido por Fernanda Boechat, tem excelentes resultados na primeira parte do espetáculo, mas há também vários méritos na segunda. A alegria explode na apresentação das personagens, do contexto e da narrativa, momentos esses em que se expõem os medos, as forças e o prazer que as personagem sentem uma com a outra. Depois, em cuidadosa opção, os movimentos diminuem e a ação fica mais densa, concentrando o foco. Como dito anteriormente, a manutenção do lugar do público em volta das atrizes não conversa fluentemente com o rumo que a história ganha, mas é notório que outras opções se esforçam em favor disso.

É bonito notar como as atrizes Linn Jardim (Ana) e Juliana Lohmann (Isabella) ganham o público ao longo da encenação. Suas construções evoluem com delicadeza e cuidado, se dirigindo potentemente para o fim. Ambas são carismáticas, movendo-se com habilidade tanto nos momentos mais animados quanto naqueles mais densos.

Se o espectador da peça tiver assistido ao filme, terá mais meios de interpretar o branco que impera no cenário de Gigi Barreto para a peça. É possível pensar que esse seja o modo como a história de Ana e Isabella pode atravessar o mundo e se tornar universal. No filme, a direção de arte de Montse Sanz optou por várias referências da história da arte ocidental para oferecer esse estilhaçamento. A luz de Rafael Sieg e o figurino de Thiago Mendonça fazem boas colaborações aqui. Tem destaque vibrante a trilha sonora da peça escolhida por Pedro Gracindo. Com certeza, os melhores momentos do ritmo se apoiam no ótimo uso desse elemento.


“Roma” está sendo um diferencial na grade de programação teatral do Rio de Janeiro nesse verão. A ver!

*

Ficha técnica:
Texto: Guilherme Prates
Direção: Renato Farias
Elenco: Juliana Lohmann e Linn Jardim
Direção assistente: Fernanda Boechat
Iluminação: Rafael Sieg
Cenário: Gigi Barreto
Figurino: Thiago Mendonça
Trilha Sonora: Pedro Gracindo
Visagismo: Bruno Fattori
Fotografa: Carol Beiriz
Projeto Gráfico: Daniel Vides Veras
Assessoria de Imprensa: Bianca Arman e Thiago Braga
Direção de Produção: Eudes Veloso
Realização: Por Acaso e Companhia de Teatro Íntimo