quinta-feira, 14 de abril de 2016

33 Variações (RJ)

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Foto: Airton Silva


Nathalia Timberg e Tadeu Aguiar

Nathalia Timberg em excelente espetáculo
O excelente “33 Variações” está saindo de cartaz no próximo domingo, dia 17 de abril. A peça inaugurou o belo e confortável Teatro Nathalia Timberg, no Centro Comercial Freeway Center, na Barra da Tijuca, com ela própria no elenco como protagonista. Escrito em 2007 pelo venezuelano Moyses Kaufman, o texto fez muito sucesso na Broadway quando trouxe de volta aos palcos a atriz Jane Fonda, afastada deles por quase quarenta e cinco anos. Ele narra a história da musicóloga Katherine Brandt que, enfrentando uma doença terminal, parte corajosa para a Alemanha. Lá ela quer descobrir a origem do interesse de Ludwig van Beethoven (1770-1827) em uma composição de Anton Diabelli (1781-1858) que ela considera medíocre. Em cena, ao lado de Natalia Timberg, está o dono da casa e diretor do espetáculo Wolf Maya. E também Tadeu Aguiar, Lu Grimaldi, Flavia Pucci, Gil Coelho, Gustavo Engracia e mais quatorze atores. A participação do pianista Silas Barbosa é outro grande momento do trabalho, bem como o majestoso cenário de J.C. Serroni. Eis uma produção sensível, delicada e grandiosa que vale a pena ser vista!

Uma dramaturgia emocionante
O texto de Moyses Kaufman é brilhante. O empenho de Katherine Brandt (Nathalia Timberg) em descobrir o que levou Ludwig van Beethoven (Wolf Maya), entre 1819 e 1823, a paralisar a composição de sua Missa Solene para se dedicar às variações da valsa de Anton Diabelli (Tadeu Aguiar) é apenas uma parte da dramaturgia. Há ainda a relação da protagonista com sua filha Clara Brandt (Flavia Pucci) e dessa com o enfermeiro Mike Clark (Gil Coelho). E a de Beethoven com Diabelli mediada por Anton Schindler (1795-1864) (Gustavo Engracia), secretário do primeiro. No entanto, não é nelas que está a história principal de “33 Variações”.

A peça é sobre a importância de exercer um olhar sobre as coisas e sobre as pessoas que seja menos centrado em nós mesmos. Forçada física e intelectualmente a esse desafio, Katherine Brandt redescobre o mundo. E nos emociona! Personagens reais e fictícios em uma trama cuja pesquisa histórica e urdimento são pontualmente bem marcados são convite para o homem refletir sobre si próprio e seu entorno. Um trabalho emocionante!

Escrito em 2007, a montagem de 2009 da Broadway recebeu quatro indicações ao Tony Award e mais o troféu de Melhor Cenário. Jane Fonda interpretava a protagonista.

Um dos melhores trabalhos de direção de 2016
A direção de Wolf Maya é firme, madura, delicada, respeitosa e corajosa. “33 Variações” atravessa o tempo tão lenta quanto preocupada em construir beleza. São duas horas e quarenta minutos de espetáculo, uma trajetória longa e difícil a que raros diretores se aventuram e mais raros ainda são aqueles que conseguem ótimo resultado como aqui é o caso. O texto bem dito por todos os atores em excelente conjunto de atuações e os elementos estéticos bem articulados no panorama geral garantem a atenção cena após cena. Injustamente acusada de se aproveitar de Kaufman para exibir a potencialidade do seu teatro recém inaugurado, a direção, na verdade, parece ter percebido que, sem cadeiras que ascendem do porão, grandes cenários que entram e saem, e sem cenas que usam cada canto do espaço cênico, seria difícil alimentar bem o interesse contemporâneo por uma peça inteiramente ilustrada por composições eruditas para piano.
Wolf Maya

Renovando-se através de confortável aparato cênico, a montagem não se despreocupou do que é essencial. Os três núcleos dramáticos de “33 Variações” – Beethoven, Schindler e Diabelli; a responsável pelos diários do compositor, Dra. Gertrude Ladenburguer (Lu Grimaldi) e Katherine Brandt; Clara Brandt e Mike Clark – apresentam cenas cheias potência. Os quadros se dão a ver através de marcas claras, os diálogos têm intenções limpas e tempos bem equilibrados, as articulações são fluentes. O elenco de apoio composto por quatorze atores colabora com a profundidade dos momentos, reforçando com realismo o movimento da narrativa. Wolf Maya apresenta aqui um dos melhores trabalhos de direção de 2016, sem dúvida.

O brilho de Nathalia Timberg
Gil Coelho (Mike Clark) colabora com enorme carisma, Tadeu Aguiar dá força para seu Anton Diabelli sobreviver bem ao que os demais personagens dizem dele, Gustavo Engracia (Anton Schindler) oferece ótimo contraponto para Beethoven. Lu Grimaldi (Dra. Gertrude Ladenburguer) acrescenta nobilíssima profundidade a sua personagem menor e Flavia Pucci tem o mérito de defender sua Clara Brandt contra qualquer facilidade, viabilizando-a com a complexidade adequada ao texto. Wolf Maya vence o desafio Beethoven em sua fase final, regulando loucura e epifania, força e foco.

Nathalia Timberg, prestes a completar 87 anos de vida e 62 anos de carreira no teatro profissional, está em excelente forma. Ela apresenta aqui um trabalho majestoso, agarrando todas as oportunidades para fazer brilhar sua Katherine Brandt com determinação, cuidado e êxito. Sua voz é clara, sua presença é forte, sua interpretação dá a ver as modificações pelas quais passa a longa narrativa de “33 Variações”. Eis aqui uma atuação imperdível!

A peça tem ainda vibrantes colaborações do figurino de Tatiana Rodrigues, do visagismo de Marcelo Dias e da iluminação de Aurélio de Simoni. O jogo entre as épocas nas quais a história acontece ganha crédito no empenho valoroso ao realismo. O cenário de J.C. Serroni, com pompa e circunstância, divide o melhor destaque da encenação com a direção musical de Natalia Trigo em que participa o piano de Silas Barbosa.

“33 Variações” é teatro da melhor qualidade em casa de espetáculos igualmente elogiável. Aplausos!


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FICHA TECNICA
Texto: Moyses Kaufman
Tradução: Nathalia Timberg
Concepção e direção: Wolf Maya
Elenco: Nathalia Timberg, Wolf Maya, Tadeu Aguiar, Lu Grimaldi, Flávia Pucci, Gil Coelho e Gustavo Engracia
Elenco de apoio: Caio Ruas, Armando Amaral, Duda Ramos, Milene Cauzin, Claudio Pitanga, Rafael Siano, Filipe Goulart, Marcus Quaresma, Valentina Garcia, Talita Feuser, Allan Bergantinne, Victor Losso, Viviane Vieira e Zeca Vaz
Pianista Convidada: Clara Sverner
Pianista: Silas Barbosa
Cenografia: J. C. Serrone
Iluminação: Aurelio De Simoni
Figurinos: Tatiana Rodrigues
Visagismo: Marcelo Dias
Direção musical: Natalia Trigo
Videografismo e projeções: Rico Vilarouca e Renato Vilarouca
Direção de produção: José Luiz Coutinho
Assistente de direção: Hudson Glauber
Fotos: Guga Melgar
Assessoria de imprensa: Minas de Ideias
Produção Executiva: Larissa Benini