quarta-feira, 27 de abril de 2016

Mulheres à beira de um ataque de nervos (SP)

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Foto: divulgação 

Helga Nemeczyk e Marisa Orth

Morno

O musical “Mulheres à beira de um ataque de nervos” é a versão para teatro do filme homônimo de Pedro Almodóvar. Com texto de Jeffrey Lane e músicas de David Yazbek, a montagem brasileira é assinada por Miguel Falabella, que também dirige a produção. Há poucas alterações da tela para o palco e das produções originais da Broadway e de Londres para o Brasil, mas a narrativa continua sendo sobre como as mulheres podem ser enlouquecidas pelos homens. O texto é interessante, o cenário de J. C. Serroni e o videografismo de Rico e de Renato Vilarouca são ótimos, o figurino de Fábio Namatame é excelente. Mas a direção imprime às interpretações um tom morno que fica aquém das potencialidades da dramaturgia, dos personagens e da estética do cineasta espanhol. Helga Nemeczyk e Ivan Parente se destacam no elenco que tem também Marisa Orth, Erika Riba e grande elenco. A temporada carioca vai até 8 de maio no Teatro Oi Casa Grande no Leblon. 

Para Almodóvar, é bom amar e viver em Madrid 
Madrid, 1987. Para vencer a insônia após ser abandonada pelo namorado e colega de trabalho Ivan (Juan Alba), a atriz Pepa (Marisa Orth) toma uma dose considerável de Valium. Seu dia seguinte começa mal: ela chega atrasada ao trabalho, onde não consegue falar com o ex, e de lá parte para o consultório de um médico que informa sobre sua gravidez. Em outra região da cidade, Lúcia (Erika Riba), a ex-mulher de Ivan, se prepara para uma audiência contra o seu ex-marido. Ela o está processando por ter gasto dezenove anos de sua juventude em uma clínica a fim de esquecê-lo (sem sucesso). Enquanto isso, a modelo Candela (Helga Nemeczyk), a melhor amiga de Pepa, descobre que dormiu com um terrorista perigoso e por isso pode ser procurada pela polícia. Há ainda a equilibrada Marisa (Carla Vazquez) que, decidida a manter firme as rédeas dos seus sentimentos, procura um apartamento para morar com seu futuro marido, que talvez não lhe faça tão feliz (nem triste). 

Com cores berrantes, emoções à flor da pele, calmantes e tentativas de suicídio, Pedro Almodóvar pauta o poder do amor como vilão no processo de manutenção da sanidade das mulheres. E, ao mesmo tempo, como a marca mais potente de sua feminilidade. No roteiro de “Mujeres al borde de un ataque de nervios”, que foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, aparecem de modo relevante três homens: Ivan, seu filho Carlos (Daniel Torres) e um taxista (Ivan Parente). Para os três, as relações afetivas não lhe envolvem totalmente. São românticos, delicados até, mas seus sentimentos não têm o poder de lhes fazer perder a cabeça. O cineasta não os critica, nem defende tampouco as mulheres, mas o filme faz um retrato engraçado das vidas em ebulição. Melhor do que isso, a cena final faz um convite ao amor apesar de toda a bagunça que ele provoca. Para Almodóvar, amar, assim como viver em Madrid, por pior que seja, é sempre bom! 

A versão musical de “Mulheres à beira de um ataque de nervos” não foi bem recebida pelo público nem em Nova Iorque, nem em Londres, embora tenha despertado a atenção da crítica e dos jurados dos prêmios. Nos Estados Unidos, ela recebeu três indicações (Melhor Música e Melhor Atriz Coadjuvante para Patti LuPone e para Laura Benanti) ao Tony Award em 2011, ano em que “The book of Mormon” ganhou quatorze indicações e nove troféus. Tendo estreado no fim de 2010, fez menos de setenta apresentações e saiu de cartaz: um fracasso retumbante. Na Inglaterra, a montagem recebeu duas indicações ao Oliver pela temporada de janeiro a maio de 2015. David Yazbek, autor das músicas e das letras originais, é o mesmo autor do ótimo “Ou tudo ou nada – O musical”, cuja versão brasileira está em cartaz em São Paulo. 

Em entrevistas, Miguel Falabella justifica a produção nacional de espetáculo mal avaliado no exterior, apostando nos modos de acesso da cultura brasileira à estética de Pedro Almodóvar. O que ele diz faz sentido, mas estranhamente não é o que se vê no palco. Sua direção não revela mulheres à beira de um ataque de nervos, mas ligeiramente nervosas em alguns momentos com uma única exceção positiva: Helga Nemeczyk. A opção reduz as potencialidades de toda a excelência que a versão brasileira tinha pra ser. É uma pena! 

Encenação morna 
Não há grandes canções, mas, no primeiro ato, “Madrid” e “Model Behavior” se destacam enquanto, “Yesterday, Tomorrow and Today” na segunda parte no âmbito da direção musical de André Cortada. São ótimos o cenário de J. C. Serroni, e sua articulação nas trocas de cenas, assim como a iluminação de Drika Matheus e a colaboração vibrante do videografismo e projeções de Rico e de Renato Vilarouca. Os figurinos de Fábio Namatame com visagismo de Dicko Lorenzo trazem pujança ao todo. Esses elementos estéticos e o modo como são usados sugerem a vida que as interpretações deixam de ter no quadro geral. Em outras palavras, a encenação morna não acompanha o visual quente da montagem. 

Erika Riba (substituindo Stella Miranda como Lucia), Bruna Pazinato (substituindo Erika Riba como a personagem Paulina), Carla Vazquez (Marisa) e Daniel Torres (Carlos) têm performances comportadas, sem desméritos nem brilhos. Juan Alba (Ivan) é favorecido pelo ótimo personagem em atuação sem desafio aparente. Marisa Orth (Pepa) apresenta a protagonista como um mero produto da dramaturgia, sem nenhuma opinião que lhe destaque para além do que lhe oferece o figurino e a trilha sonora. Helga Nemeczyk (Candela) parece que agarra as boas oportunidades e as transforma em melhores, fazendo das cenas menores relevante participação. No elenco ainda, Clara Verdier, Giovana Zotti, Nay Fernandes Tassia Cabanas, Arízio Magalhães, Betto Marque, Carlos Leça, Frank Tavantti, Kiko do Valle e Oscar Fabião colaboram positivamente no âmbito da defesa das canções e da discreta coreografia de Fernanda Chamma. 

Esperava-se mais de “Mulheres à beira de um ataque de nervos” que não chega a ser frustrante, mas está longe de ser um ponto alto desse outono carioca. 

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Ficha Técnica:
Texto original: Jeffrey Lane
Música e letras originais: David Yazbek
Versão Brasileira e Direção: Miguel Falabella
Direção Musical: André Cortada
Direção de Movimento: Fernanda Chamma
Produção Geral: Sandro Chaim
Cenografia: J.C. Serroni
Figurino: Fábio Namatame
Visagismo: Dicko Lorenzo
Designer de Luz: Drika Matheus
Designer de Som: Gabriel D´Angelo
Videografismo e Projeções: Rico Vilarouca e Renato Vilarouca
Vídeos de Cena: Luciana Ferraz e Otavio Juliano

Elenco: Marisa Orth, Stella Miranda, Juan Alba, Helga Nemeczyk, Daniel Torres, Ivan Parente, Erika Riba, Carla Vazquez, Bruna Pazinato, Clara Verdier, Giovana Zotti, Nay Fernandes Tassia Cabanas, Arízio Magalhães, Betto Marque, Carlos Leça, Frank Tavantti, Kiko do Valle, Oscar Fabião.

Apresentador por: Ministério da Cultura, Governo do Estado de São Paulo e Banco Santander
Patrocínio: Lei de Incentivo à Cultura, Proac SP e Sulamérica
Transportadora Oficial: Avianca
Realização: Quote Produções, Chaim Produções Espaço Bela Vista, Governo do Estado de São Paulo, Ministério da Cultura e Governo Federal do Brasil - Pátria Educadora.

Atendimento à Imprensa: Ju Mattoni Comunicação