terça-feira, 28 de junho de 2016

A vida dela (RJ)

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Foto: Fernanda Tomaz


Vandré Silveira, Isabel Gueron e Rodolfo Mesquita

Enormes problemas

“A vida dela” tem enormes problemas na direção e nas interpretações e outros menores no uso de outros elementos. A peça, escrita por Priscila Gontijo e dirigida por Delson Antunes, tem Isabel Gueron, Vandré Silveira e Rodolfo Mesquita no elenco. A interpretação desse último é talvez o único ponto positivo da montagem que terminou, no último domingo, dia 26 de junho, sua temporada no Teatro Café Pequeno, no Leblon, na zona sul do Rio de Janeiro.

Profundidade relativamente superficial
A história começa quando os irmãos Izabel (Isabel Gueron) e Jonas (Vandré Silveira) são chamados para vir ao Rio de Janeiro onde ainda moram Eduardo (Rodolfo Mesquita), que é o irmão mais novo deles, e o pai de todos. A convocação se deve a um agravamento do estado de saúde mental de Eduardo aliado a um isolamento do pai, que fica trancado em seu quarto e, portanto, não pode cuidar do filho. Na proposta do texto de Priscila Gontijo, essa nova oportunidade de convivência entre os irmãos impõe a eles a obrigatoriedade do encontro consigo próprios. Construir e defender a identidade diante de quem nos conhece desde a infância é, por vezes, algo mais difícil do que apresentá-la às novas relações.

Infelizmente, os méritos da dramaturgia param na apresentação dos personagens. Há algum avanço na estrutura da situação inicial e deve-se elogiar as intenções de oferecer uma reflexão sobre a identidade no mundo contemporâneo também. No entanto, no texto, Gontijo alterna questões filosóficas com informações referenciais em um todo coberto de clichês, que é bastante ruim. Sobre o primeiro, as cenas engordam com diálogos verborrágicos, esforçados em dar a ver imagens que querem parecer contemporâneas. Sobre o segundo, no meio das frases, os personagens incluem suas profissões, o lugar onde moram, o que fazem, etc., deixando negativamente claro que não estão apenas conversando entre si, mas sendo ouvidos pelo público. Em outras palavras, há uma necessidade da dramaturgia de ser compreendida, o que, em muitos momentos, denuncia sua fraqueza. Tudo aquilo que acontece ao longo de noventa minutos não modifica os personagens nem faz transformar a narrativa. Ao contrário, continua os apresentando enquanto cava oportunidades para pretensas marcas de profundidade relativamente superficial.

Méritos no trabalho de Rodolfo Mesquita
A direção de Delson Antunes, assistido por Renata Caldas, não resolve os problemas do texto, omitindo-se de valorizar seus méritos e agravando seus defeitos. Se a dramaturgia de “A vida dela” parece partir de um lugar neorrealista, a encenação vai para a farsa com vínculos de realismo quebrados a todo o momento. Além disso, durante quase toda a peça, os atores ficam praticamente virados para o público sem triangulação. Há um excesso de olhares para a plateia e de expressões fáticas, construindo, através de uma teatralidade inoportuna, uma comédia que disfarça uma concepção mal construída. Para piorar, os três atores parecem ter tido referências estéticas diferentes, o que revela a falta de coesão da obra como um todo.

Isabel Gueron defende sua personagem através de marcas muito expressivas e um tanto quanto exageradas talvez porque queira “representar” que sua Izabel é uma dramaturga frustrada. Prejudicado pela dramaturgia, Jonas só oferece a Vandré Silveira alguma quebra no terço final da história, quando o cansaço já domina o público. Até lá, sobram regularidade e quase nenhum carisma na interpretação de um cineasta frustrado também. Rodolfo Mesquita, na viabilização de seu Eduardo, é quem colabora com o melhor quadro: seus subterfúgios cômicos trazem respiro à complexidade de sua figura e oferecem ao público a chance de participar, por meio do riso, com a dose de preconceito que a peça pode querer criticar.

Mau uso do idioma teatral
A iluminação de Fernanda e de Tiago Mantovani, o cenário de José Dias e o figurino de Luisa Marcier participam bem, mas se perdem na confusão de propostas estéticas do espetáculo. Na trilha sonora de Rodrigo Maranhão, uma mesma música se repete ao longo de toda a peça ao fim de cada cena em uma exaustiva articulação.

Em “A vida dela”, o idioma teatral aparece usado de maneira pouco habilidosa pelo conjunto de seus realizadores. Com interpretações perdidas e diálogo pouco profícuo entre direção e dramaturgia, o espetáculo falece enquanto o público se entedia.


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Ficha Técnica:
Texto: Priscila Gontijo
Gênero: Comédia Dramática
Direção: Delson Antunes
Assistente de direção: Renata Caldas
Consultoria: Walter Lima Jr.
Elenco: Isabel Gueron (Izabel)
Rodolfo Mesquita (Eduardo)
Vandré Silveira (Jonas)
Trilha Sonora: Rodrigo Maranhão
Iluminação: Fernanda Mantovani e Tiago Mantovani
Cenário: José Dias
Figurino: Luisa Marcier
Direção de movimento: Ana Bevilacqua
Programação Visual: Gio Vaz
Fotos: Fernanda Tomaz
Produção: Pagu Produções Culturais

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