sexta-feira, 17 de junho de 2016

Esse vazio (RJ)

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Foto: Daniel Moragas da Costa

Sávio Moll, Daniel Dias da Silva e Gustavo Falcão

Gustavo Falcão e Daniel Dias da Silva em ótimo espetáculo

O ótimo “Esse vazio” é o mais novo espetáculo produzido por Daniel Dias da Silva e por Gustavo Falcão, a mesma dupla responsável pelo também ótimo “Matador”, de 2013. Com texto do argentino Juan Pablo Gómez, a peça é dirigida por Sergio Módena. Além de Silva e de Falcão, no elenco está também Sávio Moll, substituído por Daniel Moragas da Costa na sessão que aqui se analisa. Na história, dentro do vestiário de um clube de uma pequena cidade, três amigos de infância se encontram em meio ao velório de um quarto. Um deles, que foi embora para a capital há alguns anos, é motivo pelo qual as diferenças surgem. A narrativa emociona pela simplicidade e pela qualidade com que é defendida pelos intérpretes. Depois de uma primeira temporada no Teatro Glaucio Gill, até o último dia 13 de junho, a peça segue para o Teatro Serrador, no centro do Rio de Janeiro, onde há de fazer uma bonita história também.

Dramaturgia positivamente sem curvas
Hugo (Gustavo Falcão), Lucas (Daniel Moragas da Silva) e Max (Daniel Dias da Silva) se reencontram no velório de Matias, que acontece no clube da pequena cidade onde todos cresceram. Quando a peça começa, Hugo, que foi morar na capital há algum tempo, está se protegendo no vestiário contra aqueles que também vieram se despedir do falecido. Ele sofre um certo tipo de fobia social e sua proteção é interrompida por Lucas e por Max que vêm atrás dele. A conversa entre os três amigos, evoluindo de uma crítica ao modo como as pessoas se comportam na cerimônia fúnebre a uma avaliação da pacata vida no interior, deixa ver as diferenças entre eles. Lucas é mais contido, Max mais emotivo e os dois menos ambiciosos que Hugo.

O texto de Juan Pablo Gómez, um tanto quanto previsível em vários aspectos, parece fazer da ausência de grandes conflitos e reviravoltas uma questão essencial de seu conteúdo. A dramaturgia reconhece que, apesar dos três terem crescido juntos, um deles seguiu caminho diferente. Ela porém não opina sobre isso. Se, em algum momento, avalia-se a vida na cidade grande como mais interessante, em outro, revela-se a riqueza do permanecer próximo às raízes. O mais interessante do texto, e belo!, é justamente essa complexidade: se a rotina esvazia a vida, pode também protegê-la. Não se trata de saudosismo, nem de idealização, mas se sustenta a hipótese - meio doce, meio amarga - de que a vida é assim.

Outra boa direção de Sergio Módena
A direção de Sergio Módena se empenha em polarizar os personagens talvez porque percebe que não é em qualquer um deles que está o todo, mas no seu conjunto. O interior do banheiro, uma espécie de um minarete que reage à toda a estrutura em seu entorno, é uma insólita fortaleza que abriga, esquiva, mas também que expõe quem está nele. Lucas aparece com uma debilidade física, Hugo psicológica, Max social. Juntos, eles não se tornam melhores, mas equivalentes. Sem protagonismos nem na ordem da relação entre os personagens, nem no modo como as cenas se articulam na narrativa, “Esse vazio” atravessa o tempo como bloco único, com identidades específicas (o encontro, as revelações, a bebedeira, a briga, etc), mas equânimes.

Todos os trabalhos de interpretação são positivos. Gustavo Falcão, Daniel Moragas da Costa e Daniel Dias da Silva sustentam presenças fortes, cobertas de marcas que os identificam e dispostas a viabilizar contornos que caracterize os diversos momentos do texto. Em conjunto, mas também em cada parte, eis um trabalho tocante.

O cenário de Cláudio Bittencourt tem méritos na definição do vestiário, dando a ver as marcas essenciais para o realismo. O figurino de Victor Guedes, conferindo ao velório um certo tipo de formalidade que, se há em Buenos Aires, com certeza não se conserva no interior do Brasil, perde oportunidades. A iluminação de Tomás Ribas positivamente pouco aparece.

“Esse vazio” pode revelar a beleza do nada que também é tudo. Vale a pena ver!

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FICHA TÉCNICA

Direção: Sergio Módena

Texto: Juan Pablo Gómez (em colaboração com Patrício Aramburu, Nahuel Cano e Alejandro Hener)

Tradução: Daniel Dias da Silva

Elenco: Gustavo Falcão, Daniel Dias da Silva e Sávio Moll

Cenário: Claudio Bittencourt

Figurinos: Victor Guedes

Iluminação: Tomás Ribas

Programação visual: Gamba júnior

Design do projeto: Antonia Muniz

Assist. Direção / Fotos de Divulgação / Stand-in: Daniel Moragas da Costa

Mídias Sociais: Rafael Teixeira

Direção de produção: Daniel Dias da Silva e Gustavo Falcão

Realização: Territórios Produções Artísticas



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