quarta-feira, 29 de junho de 2016

João e Maria - O musical (RJ)

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Foto: divulgação


Alice Maria Paiva, Antonio Carlos Feio e Eduardo Cardoso

Clássico ganha ótima abordagem

“João e Maria – O musical” é a ótima versão de Daniel Porto para o clássico atribuído aos Irmãos Grimm. Na história, um casal de crianças é abandonado pelo pai e pela madrasta na floresta – todos vítimas de uma grande fome que assola a região – e precisa fazer o caminho de volta. Com ótimos trabalhos de interpretação, o elenco é composto por Antonio Carlos Feio, Luciana Victor, Alice Maria Paiva e por Eduardo Cardoso. O espetáculo emociona adultos e crianças, oferecendo níveis diversos para a fruição da história original. A segunda temporada, que aconteceu no Teatro Fashion Mall, terminou no último domingo, dia 26 de junho. 

Vários níveis possíveis de fruição da narrativa
“Hänzel und Gretel” está inclusa nas compilações de histórias para crianças dos irmãos Jacob (1785-1863) e Wilhelm Grimm (1786-1859). No conto alemão, uma grande fome devasta a comunidade onde moram os personagens. Sob inspiração de sua nova Esposa, o Pai (Antonio Carlos Feio) resolve deixar os filhos João e Maria (Eduardo Cardoso e Alice Maria Paiva) na floresta porque não os consegue alimentar. Graças a pedras que brilham à noite, João e sua irmã encontram o caminho de volta para casa. Só que o abandono se repete e a sorte deles já não é a mesma nessa outra situação. Uma casa toda feita de doces aparece diante deles e uma Bruxa (Luciana Victor) os aprisiona, ameaçando comê-los quando estiverem mais gordinhos.

Na plateia, crianças e adultos acompanham a história ao seu modo. Os primeiros estão mais interessados em saber como tudo termina. O segundo pode ficar atento às reflexões sociais que a narrativa oferece. A fome que corrompe as relações, a inteligência que auxilia no drible dos problemas e a importância da união como fonte de energias positivas estão entre elas. Na dramaturgia de Daniel Porto, esses níveis se alternam e contribuem eficazmente na apresentação da história.

As canções originais de Porto e de Tibor Fittel são lindas, mas as letras não têm os mesmos méritos. Em várias delas, as palavras parecem não caber nas melodias em um resultado que deixa a desejar, em alguns momentos, pela falta de fluência.

Ótimos trabalhos de interpretação
A direção de Daniel Porto impõe à cena partituras rígidas que ampliam as possibilidades estéticas da encenação. Há pouquíssimos elementos cenográficos e os figurinos da montagem pouco se modificam, o que enche as interpretações de responsabilidades. O elenco, com sucesso, vence os desafios. Antonio Carlos Feio afasta do Pai a imagem ruim daquele que abandonou os filhos, oferendo ao personagem o aspecto mais humano do homem que não podia sustentar aqueles que ama. Luciana Victor dá força para a Madrasta e para a Bruxa, recorrendo também, quando possível, a aspectos mais humanos, mas sem tirar bom proveito do estereótipo que melhor convém. Eduardo Cardoso (João) e Alice Maria Paiva (Maria) defendem seus personagens-título com grande agilidade e enorme carisma em ótima colaboração.

Os figurinos de Karlla de Luca enobrecem o todo pela riqueza de detalhes, elevando os níveis estéticos do espetáculo positivamente. O mesmo, no entanto, não se pode dizer do cenário. Dois terços da peça são sobre a fome, mas, durante toda a encenação, o público vê com estranheza uma casa de doces no fundo do palco esperando por seu momento. A cortina participa de modo negativo dessa cabana, desempenhando uma debilitada função na cena em que um forno se faz ver. Os arbustos são baixos demais, assim como a jaula, fazendo com que a imaginação seja obrigatória e não apenas bem-vinda. A iluminação de Guego Lima e de Romiro Vasquez faz bela participação.

Aplausos!
Em “João e Maria – O musical”, duas concepções de sociedade se chocam. O liberalismo justifica o descarte daqueles que não produzem. Um ponto de vista mais humano entende que os deveres de cada um precisam ser medidos com base em suas possibilidades. Além disso, a decisão pela união e a força da esperança, marcas sublimes da humanidade, vibram essa bela história que ganha aqui ótima abordagem. Parabéns!

*

FICHA TÉCNICA
Texto e direção: Daniel Porto
Direção musical: Tibor Fittel
Elenco: Antonio Carlos Feio, Luciana Victor, Alice Maria Paiva, Eduardo Cardoso e Rafael Ballest
Preparação vocal: Tibor Fittel
Cenário e figurino: Karlla de Luca
Videomaker e projeções: Marcio Thees
Iluminador: Guego Lima e Romiro Vasquez
Adereços: Karlla de Luca
Coreografia: Rafael Ballest
Cenotécnico: Ronaldo
Costureira: Bebel Rosa
Preparação corporal e direção de movimento: Paula Feitosa
Design gráfico: Guilherme Lopes Moura
Letras e melodia: Daniel Porto e Tibor Fittel
Produção executiva: Daniel Porto
Direção de produção: Alexandre Lino
Idealização: Alexandre Lino e Daniel Porto

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