sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Cartas libanesas (SP)

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Foto: divulgação


Eduardo Mossri

Bom monólogo homenageia a imigração

O monólogo "Cartas libanesas" é um simpático espetáculo dirigido por Marcelo Lazzaratto. O texto de José Eduardo Vendramini transpõe para o palco algumas cartas reais escritas pelo imigrante libanês Miguel Mahfuz, avô de Eduardo Mossri, o ator que o interpreta. Nelas estão detalhes sobre a viagem dele ao Brasil no início do século XX, a saudade de casa, o choque entre culturas, a luta pela vida no novo país. Na peça, há o esforço em oferecer uma abordagem carismática envolvente, mas essa sucumbe à excessiva previsibilidade. Destaca-se de modo positivo o figurino de Fause Haten na produção cuja temporada carioca encerrou, no último domingo, dia 25 de setembro, na Sala Multiuso do Espaço SESC Copacabana.

Problemas da dramaturgia
Enquanto o público entra, Eduardo Mossri conversa com as pessoas, anotando seus sobrenomes em um caderninho. Seu contato é amável e possibilita a instauração de um clima agradável à defesa do espetáculo que está por vir. O problema é que, tão logo a narrativa propriamente começa, esperar pelo que será feito com as anotações se torna o único gancho que sustenta a encenação.

"Cartas libanesas" é uma justa homenagem à imigração. O personagem Miguel Mahfuz, avô de Mossri, cuja história a peça desvenda, é um entre os milhares de libaneses que buscaram, nas grandes cidades do Brasil, uma vida melhor entre 1871 e 1940. Ele chegou ao Brasil em 1914, fugindo da Primeira Guerra, deixando na Europa sua jovem esposa grávida. Seu trabalho aqui garantia o sustento de sua família lá. O esforço desse povo está no cerne da história do mercado da moda brasileira, pois a ela contribuiu ele mais do que qualquer outro grupo.

O problema, no que diz respeito à dramaturgia da peça, é o modo como a saga de Mahfuz é narrada. No texto de José Eduardo Vendramini, intercalam-se momentos em que Mossri fala com o público em primeira pessoa e trechos em que o ator dá vida ao personagem do seu avô. Essas interrupções para comentários às cenas tornam superficial a fruição da proposta, pois, toda vez que a história fica interessante, o fluxo é rompido.

Além disso, as cartas do homenageado à sua esposa no Líbano se tornam quadros dispostos em uma linha cronológica. Desde o início do espetáculo, sabe-se que, após os sacrifícios, haverá um sucesso recompensador. As dificuldades que visam tornar o herói mais valoroso - a saudade da família, a falta de sexo, os desafios do trabalho – não escondem a previsibilidade da trama. Isso faz vir a monotonia, problema que a simpatia do intérprete, ainda que grande, não vence.

Ao final, o prólogo faz sentido. O Brasil, uma nação de tamanho continental, é um país onde quase todo mundo é descendente de imigrantes (com exceção dos descendentes de indígenas). Os limites muito além do litoral cercaram um conjunto diversos de povos e de culturas diferentes. Desse modo, todo mundo aqui tem um pouco de Miguel Mahfuz e de Eduardo Mossri, e os sobrenomes expõem essa variedade. Ao concluir com essa reflexão, "Cartas libanesas" encontra seus maiores méritos.

Valores da encenação
A direção de Marcelo Lazzaratto, assistido por Wallyson Motta, organiza as marcas de expressão de maneira a proporcionar uma encenação limpa. O feito colabora com a dramaturgia, essa que está pautada em datas históricas e realidades geográficas com as quais o público precisa lidar. Há méritos também no uso do espaço cênico. Os poucos elementos são usados com potência e criatividade em quadros interessantes ao longo da encenação. Eduardo Mossri tem uma atuação carismática pautada em ótimo repertório de expressões que conquistam o público.

O figurino de Fause Haten, com visagismo de Nael Kassees, é um dos pontos altos do monólogo. O corte do terno de linho confere uma sutil elegância ao personagem, revelando que sua pobreza não lhe impede o bom gosto. O todo, alçando a montagem para um lugar idealizado que é coerente com a dramaturgia, dá unidade para a estrutura do espetáculo que merece ser elogiada. A trilha sonora de Gregory Slivar colabora bastante bem com a defesa da proposta.

“Cartas libanesas”, ainda que com alguns entraves, é um bom espetáculo e que fica melhor pelas suas intenções. Que volte mais vezes ao Rio de Janeiro.

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FICHA TÉCNICA
Texto: José Eduardo Vendramini
Direção e Iluminação: Marcelo Lazzaratto
Ator: Eduardo Mossri
Cenário: Renato Bolleli
Trilha Sonora: Gregory Slivar
Figurinos: Fause Haten
Assistente de direção: Wallyson Motta
Preparação vocal: Rodrigo Mercadante
Visagismo: Nael Kassees
Fotógrafo: Felipe Stucchi
Produção: Eduardo Mossri
Apoio: SESC Rio
Realização: Cia Teatral Damasco
Assessoria de Imprensa: JSPontes Comunicação – João Pontes e Stella Stephany

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