quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Papai está na Atlântida (RJ)

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Foto: divulgação


Daniel Archangelo e Ricardo Gonçalves
Espetáculo comovente sobre infância e imigração

A comovente e divertida “Papai está na Atlântida”, do mexicano Javier Malpica, é uma ótima produção dirigida por Guilherme Delgado. Escrito em 2006, o texto da peça narra a história de dois irmãos que, ainda pequenos, são enviados a morar com a vó no interior, porque sua mãe faleceu e o pai deles foi ganhar a vida no exterior. A história é o modo como encontram um no outro a proteção contra o mundo que eles vão descobrindo sozinhos. Brilhantemente interpretados por Daniel Archangelo e por Ricardo Gonçalves, eis um belo espetáculo em cartaz no Teatro Eva Herz, na Cinelândia, até o dia 17 de setembro.

Lindo texto de Javier Malpica
Os dois personagens, cujas ações se constituem na narrativa da história de “Papai está na Atlântida”, são dois garotos aparentemente menores de dez anos. Daniel Archangelo interpreta o maior e Ricardo Gonçalves seu irmão mais jovem. Com a morte da mãe e a viagem do pai, eles são enviados a morar com a avó, que mora longe da cidade. A reconstituição dos laços familiares e o estabelecimento de um ritmo de vida que o campo exige em oposição a onde eles moravam são questões que mudam radicalmente o mundo que eles têm diante de si. Seu crescimento se torna uma aventura cheia de novos sabores, alguns muito amargos.

Em um jogo envolvente de ações que a dramaturgia e a direção apresentam, a narrativa é deliciosa. Os conflitos que surgem entre eles ou deles com os outros personagens vão alimentando um isolamento cada vez maior. O desfecho aterrador dói mais ainda porque acontece depois de diálogos interessantes e inteligentes e situações cuja doçura não deixa de antecipar uma realidade em que a infância está longe de ser uma fase tão poética quanto parece.

A direção de Guilherme Delgado apresenta a história por meio da atuação dos atores em jogo entre si e com dois bancos sem encosto sob o desenho de luz. Nada mais! Por isso, cada novo quadro surge do desafio de se reinventar, o que, além de exibir a vastidão de seu repertório como encenador, também impõe a cena outros meios de se envolver com o público para além dos méritos de Malpica.

A peça não é melhor, no entanto, pela perda de ritmo que o espetáculo sofre nos momentos finais. Lá pelas tantas, não se sabe mais aonde a história está indo de modo que a força se esvai e a fruição cansa. O mérito da cena final é prejudicado parcialmente pelo sutil arrastamento das cenas logo antes dela.

Daniel Archangelo Ricardo Gonçalves em excelentes interpretações
Daniel Archangelo, mas principalmente Ricardo Gonçalves apresentam excelentes trabalhos de interpretação. Seus guris são complexos: nem adultos abobalhados, nem crianças sem linguagem própria. Há humor, malvadeza, medo e coragem em um todo expresso a partir de movimentação repleta de diferentes níveis. O tempo deixa marcas sensíveis nos personagens que crescem ao longo da narrativa. Através deles e dos jogos que acontecem entre eles, ou que se veem com sua participação, a ação vai tomando corpo. Eis trabalhos de interpretação destacáveis que enaltecem os valores do espetáculo e o tornam uma ótima programação.

“Papai está na Atlântida” tem ainda boa colaboração do figurino de Ricardo Rocha e cenário dele e de Daniel Archangelo, mas é, na iluminação de Luiz Paulo Barreto, que seus melhores valores estão apoiados. Cada novo quadro surge a partir de um desenho que, promovendo diálogo entre os personagens e a escuridão, dá a ver quadros de enorme beleza cuja força poética contextualiza a comicidade e permite antever a ideologia.

A palavra Atlântida do título vem de um mal-entendido. Um dos personagens acredita que seu pai está na cidade perdida quando, na verdade, cruzou a fronteira do México para trabalhar nos Estados Unidos. Por trás, assim, de uma comédia sobre meninos que viram homens, está uma reflexão sobre o direito ao sonho e a luta por sua realização além de questões relativas à infância, família, imigração e à sociedade. Realizada pela Tentáculos Espetáculos, uma excelente pedida na grade de programação carioca. A ver e a aplaudir!

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Ficha Técnica:
Autor: Javier Malpica
Direção: Guilherme Delgado
Elenco: Daniel Archangelo e Ricardo Gonçalves
Cenografia: Guilherme Delgado e Ricardo Rocha
Figurino: Ricardo Rocha
Iluminação: Luiz Paulo Barreto
Realização: Tentáculos Espetáculos
Comunicação: Aline PeresArt
Designer: not.a.pipe
Fotos: Luiz Luz

Um comentário:

  1. que peça maravilhosa!!! assisti 2 vezes e amanhã será minha terceira. vale muito a pena! ainda encantada!

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