sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Renato Russo - O musical (RJ)

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Foto: divulgação

Bruce Gomlevsky

A volta de um grande momento do teatro musical brasileiro

O excelente “Renato Russo – O musical” fez uma pequeníssima, mas gloriosa temporada no Theatro Net Rio, em Copacabana, agora durante o mês de outubro. Ela faz parte da celebração dos vinte anos de falecimento do líder da banda Legião Urbana, o cantor e compositor Renato Russo (1960-1996). O espetáculo, que estreou no fim de 2006, atravessou essa última década, fazendo apresentações muito festejadas em várias cidades do país. Tudo isso se deve à altíssima qualidade de todos os aspectos envolvidos nessa produção da BG ArtEntretenimento e da Gávea Filmes. A dramaturgia de Daniela Pereira de Carvalho, a direção de Mauro Mendonça Filho, a direção musical de Marcelo Alonso Neves, a iluminação de Wagner Pinto, o videografismo da Apavoramento, a banda Arte Profana e principalmente a interpretação de Bruce Gomlevsky marcam a peça como um dos pontos altos da história recente do teatro brasileiro. Há outra temporada programada para o próximo verão no Teatro Riachuelo, no centro. Eis algo para se aplaudir muitas e muitas vezes!

Daniela Pereira de Carvalho e os bons tempos do musical biográfico
A dramaturgia “Renato Russo – O musical” faz parte dos bons tempos do musical biográfico. Em 2016, vive-se uma ressaca de dezenas de outras montagens que vieram nesse encalço nos últimos anos, mas rever o trabalho de Daniela Pereira de Carvalho hoje significa perceber o quanto, em determinada época, tudo isso foi bom. O maior mérito, dentre tantos a ser destacado aqui, diz respeito ao modo como o personagem está apresentado. No texto, o Renato Russo da narrativa (nunca se chegará ao que, de fato, o homem foi) está exposto de maneira plena. Seus valores, suas qualidades, mas também seu lado obscuro, suas sombras, seus períodos de crise. O espectador não assiste com devoção, mas vê a peça também para se identificar, para refletir sobre si mesmo.

Além disso, a história se organiza a partir de excelente articulação de suas partes. É um monólogo, isto é, só há um ator em cena, e, além disso, ele está praticamente sem cenário e sem figurino. Essas questões fazem recair na interpretação, mas também no texto, enorme responsabilidade. Na dramaturgia de Carvalho, o todo é dividido em partes. Em outras palavras, é como se “Renato Russo – O musical” fosse uma união de vários pequenos monólogos, todos eles independentes, mas que juntos dão a ver a complexidade do homenageado. Em cada um deles, a fala dá conta de informar o lugar, a situação, as questões envolvidas, solicitando ao público que ele inclua tudo aquilo que será necessário para o estabelecimento da narrativa com sua imaginação e experiência. Então, vem um determinado acontecimento que modifica a estrutura inicial da cena e exige a reformulação dela. E, assim, quadro após quadro, todos eles dispostos em ordem cronológica, o todo vai acompanhando a vida de Renato Russo a partir de suas vitórias e derrotas em cada desafio.

Assim, sem superficializar o personagem nem tampouco as situações a partir de qualquer tipo de endeusamento, nem tampouco fazer da cronologia a máxima justificativa para a organização da narrativa, a dramaturgia de “Renato Russo – O musical” é um dos seus maiores valores no todo dessa obra teatral.

Magnífico empenho da teatralidade!
A direção de Mauro Mendonça Filho, que recebeu o Prêmio Shell de 2006, tem o mérito organizar a narrativa cênica no âmbito de três relações distintas: aquelas em que o personagem está sozinho consigo mesmo, aquelas em que ele fala com alguém e aquelas em que está diante do público ficcional. A plateia real, essa que assiste a tudo, vê todo o espetáculo como presença onisciente (porque conhece de um modo geral a história contada, o que se vê pela participação da audiência cantando com o ator as músicas da peça) e também onipresente. Ao longo de duas horas, aproveitando a qualidade do ritmo da dramaturgia e propondo melhor ainda relação com o cenário, o figurino e principalmente com a luz e com o videografismo, Mendonça Filho assina um quadro onde Bruce Gomlevsky consegue brilhar aqui. Ele é rico, coeso e coerente, mas também complexo e interessante, qualidades essas que se veem pelo modo como os elementos estão articulados. Não se trata de justaposição, mas de intensa colaboração em que economia não é marca de despojamento, mas de fluidez.

O cenário de Bel Lobo, todo composto de objetos pretos, faz o personagem vir à frente. O figurino de Jeane Figueiredo participa sensivelmente sem estetizar o quadro. O videografismo da Apavoramento (Rodrigo Lima, Cila Mac Dowell e Gustavo Vaz) dá movimento, mas sobretudo une a história narrada com tudo aquilo que de fato aconteceu e que o público traz como base para sua fruição. A iluminação de Wagner Pinto é quase um espetáculo à parte. (quase) Sem cores e com uma profusão de focos limitados cuja participação se dá em íntima relação com a música, com o texto e com a interpretação, a luz amplia o espaço e também o diminui, deixando-o íntimo e público, vivo e reflexivo. Um trabalho belíssimo!

A excelência de Bruce Gomlevsky e da Banda Arte Profana
Bruce Gomlevsky dá a ver o personagem título, fazendo pontes entre informações vindas de registros documentais de Renato Russo e outras que surgem do seu próprio encontro com o público nesses dez anos de encenação. O resultado é uma figura humana, concreta, que assina e defende a viabilização do espetáculo no momento presente de sua apresentação. Isso auxilia no convite à emoção, ao divertimento e também à reflexão, comportamentos esses que visivelmente se dão na fruição desse espetáculo tão meritoso. Com enorme repertório de expressões corporais e vocais, o intérprete apresenta também nessa peça excelente trabalho (como sempre).

“Renato Russo – O musical”, além de seus méritos enquanto obra artística, providencia um outro espetáculo: a participação do público. Ao longo da sessão, a plateia canta junto com o ator trechos (ou inteiramente) as 22 canções que compõem a narrativa e que, nesses últimos trinta anos, têm celebrado gerações no país. É lindo fazer parte desse momento, ver um grupo desconhecido de pessoas se irmanar em letras e em melodias enquanto individualmente libera memórias. A participação da banda Arte Profana – os músicos Ziel de Castro (guitarra), Maninho Bass (baixo), Juba Califónia (teclado) e Marcos Vinni (bateria) estão ao vivo em cena – define os pontos positivos desse momento. A direção musical é de Marcelo Alonso Neves.

Diferente de um filme que pode ser revisto na hora e por quem quiser, uma peça de teatro dura o tempo em que demorar a apresentação dela. O resto é memória. Vale a pena agendar-se para ver (ou rever) “Renato Russo – O musical”.

*

Ficha Técnica (conforme enviado pela assessoria):

Texto: Daniela Pereira de Carvalho

Direção: Mauro Mendonça Filho

Direção Musical: Marcelo Alonso Neves

Iluminação: Wagner Pinto

Cenógrafo: Bel Lobo e Bob Neri

Figurino: Jeane Figueiredo

Produção: Bianca De Felippes

2 comentários:

  1. O que era pra ser um espetáculo é um LIXO. De interpretaçao, de afinaçao, de imagem do autor. De longe pode ser considerado uma HOMENAGEM. Péssimo! Eu pagaria o valor absurdo de 100,00 (custo da apresentaçao no Teatro Frei Caneca) durante TODA a temporada só pra vaiar com veemencia um lixo de “homenagem”, interpretaçao FRACA e afinaçao horrível.

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  2. Também não gostei, vi aqui em João Pessoa e sai na metade, não devia se enquadrar como musical, depois de ver diversos musicais brasileiros (Cazuza, Cassia Eller, Tim Maia, Hebe, Cartola, Mamonas), esse foi o pior.

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